20 de Junho, 2009
‘Especialistas em nutrição’ exigem mudança radical de hábitos alimentares dos portugueses, apesar de não possuirem qualquer pista sobre qual a dieta mais cardioprotectora
Esta notícia recente do CIENCIA PT é paradigmática, porque demonstra bem como os nossos "especialistas", sejam eles internacionais ou os cá do bairro, parecem não possuir qualquer pista no que respeita a uma nutrição preventiva das doenças do aparelho circulatório. Em Portugal, está é uma das principais causas de morte mas, apesar de tudo, à semelhança dos restantes países mediterrânicos, somos dos países do mundo com menor mortalidade cardiovascular. Os "especialistas" adoram exaltar as propriedades saudáveis da dieta mediterrânica. Pois bem, quais são? Muita gordura, é tão óbvio! A nossa dieta mediterrrânica sempre foi hiperlipídica, plena de azeite, azeitonas, chispes & couratos, peixe/carne, ovos, etc. Todos os desvios disto para a "dieta saudável", traduzida em rodas alimentares "low-fat", apenas nos conduzirão a maior risco cardiovascular. Abram-se os olhos à evidência epidemiológica, que associa maior consumo de gorduras, designadamente saturadas, e de colesterol, a menor risco de AVC.
Os cardiologistas não dizem que o colesterol cardioprotector-bonzinho é o HDL? E por que razão o pessoal paleo anda a bombar HDL, com valores acima das 100 mg/dl? Algum destes "especialistas em nutrição" o saberá ou sonharão que até podem ser pelo elevado consumo de gorduras saturadas? Não, heresia, é impossível! Para estes nossos "especialistas" que não entendem o papel saudável das dietas hiperlipídicas, a dieta mediterrânica continuará a ser sempre um enigma, conforme descreve este artigo da Medical News ("Compared to other Western diets, the Mediterranean diet was seen by others as a bit of an enigma. Although fat consumption is high, the prevalence of hypertension, cardiovascular disease, obesity, cancer and diabetes has always been significantly lower in Mediterranean countries than northern European countries and the USA.")
Sr. doutores, já é mais que tempo de olhar para a evidência científica, epidemiológica e clínica, e abandonar esta hipótese lipídica, que condenou injustamente as gorduras de qualquer tipo e o colesterol, e com isso os alimentos tradicionais importantes para a protecção cardiovascular. Em resultado desta completa desorientação dos "especialistas", o que se verifica actualmente é um enfoque injustificado em marcadores lipídicos sem relevância, como o colesterol total, e uma baixíssima atenção ao metabolismo da glucose e diabetes. Resultado disto? As próprias autoridades de saúde não têm controlo sobre a diabetes, condição que por acaso até triplica o risco cardiovascular. Porque será? Todas as recomendações anti-gordura resultam sempre em maior consumo de "cereais/amidos saudáveis", o alimento preferido dos"especialistas da nutrição", apesar destes só terem sido introduzidos na dieta humana com a agricultura, porventura o pior erro da humanidade. Maior consumo de cereais/amidos e açúcares significa necessariamente maior carga glicémica em circulação, independentemente da absorção ser rápida ou lenta, o facto é que a glicémia estará elevada por mais tempo, promovendo um ambiente tóxico-arterial e, com isso, maior inflamação, oxidação de LDL, doença cardiovascular e mortalidade.
O problema agora é ensinar isto aos nossos "especialistas", que parecem ter ficado adormecidos no passado. Meus senhores, é preciso ler, estudar, passar algumas horas na Pubmed. E ter a coragem de admitir erros, para ver se saímos destes equívocos, que se traduzem numa incompreensível nutrição desfuncional moderna!
Especialistas em nutrição "exigem" mudança radical de hábitos alimentares dos portugueses
Escrito por CienciaPT
09-Feb-2009
O número de vítimas de doença cardiovascular ascende os 17 milhões de pessoas por ano em todo o mundo. Em Portugal, é a principal causa de morte, contando com mais de 40 mil vítimas por ano. Para discutir este flagelo e encontrar directrizes que ajudem a mudar esta tendência reuniram-se em Barcelona, os 40 maiores especialistas em nutrição e saúde alimentar do Mundo.
O Professor Manuel Carrageta, Presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia (FPC), representou Portugal neste encontro, e acompanhou de perto todos os debates e conheceu em primeira mão as resoluções tomadas.
No final de dois dias de discussão, chegou-se à conclusão que um dos grandes problemas que contribui para o aumento de mortes em todo o Mundo é o facto da grande maioria dos consumidores, adultos e crianças, não saber a distinção entre gordura saturada e insaturada, ingerindo quantidades desmesuradas de gordura saturada. De acordo com Manuel Carrageta, “a escolha da composição das gorduras é um factor determinante na redução do risco de sofrer doenças cardíacas e acidentes vasculares cerebrais”.
No final do encontro, o Professor Ricardo Uauy, Presidente do Comité e da União Internacional de Ciências Nutricionais (IUNS), concluiu que: “Novas pesquisas apresentadas em Barcelona mostraram que o consumidor continua sem saber a diferença entre gorduras boas e gorduras más, facto que se reflecte no tipo de alimentos que consome. Em muitos países, a maioria de gordura consumida ainda não está de acordo com as recomendações internacionais. Durante o encontro, e a partir de um consenso científico internacional, definiram-se as directrizes para ajudar o consumidor a perceber qual a melhor gordura. Em linha com os objectivos da IUNS, queremos semear estas linhas orientadoras na mente dos profissionais e do público em geral, de forma a criar e fomentar uma motivação que leve à mudança urgente e radical de hábitos alimentares.”
Este encontro é o primeiro grande passo de uma campanha global que será levada a cabo durante todo o ano de 2009 com o objectivo de alertar os consumidores para a necessidade urgente de mudar hábitos alimentares, nomeadamente no que diz respeito ao tipo de gordura correcto a consumir.
O encontro foi realizado sob a chancela da União Internacional de Ciências Nutricionais (IUNS) e foi liderado pelo comité científico:
Professor Ricardo Uauy, do Chile, President of the IUNS
Professor Pekka Puska – co-chair (Director General, National Institute for Health and Welfare, Finlândia)
Connie Diekman M.Ed, RD, FADA (Director of University Nutrition, Washington University in St Louis)
Professor Ibrahim Elmadfa (Director, Institute of Nutritional Sciences, University of Vienna)
Professor Bert Koletzko (Head of Div. Metabolic Diseases and Nutritional Medicine, Dr. von Hauner Children’s Hospital, Ludwig-Maximilians-University of Munich)
Dr. Hans Zevenbergen (Category Nutrition Director, Unilever Research and Development)
No encontro estiveram representantes de 25 países: África do Sul, Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, República Checa, Chile, China, Espanha, Estados Unidos da América, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Hungria, Índia, Inglaterra, Irlanda, Israel, México, Polónia, Portugal, Roménia e Turquia.
Actualizado em ( 10-Feb-2009 )