03 de Setembro, 2009
Dietas com restrição de Hidratos de Carbono, e portanto mais Lipídicas/ Proteicas que o usual, ao contrário das dietas Low-Fat preferidas dos “especialistas”, possuem inúmeras propriedades terapêuticas e também são mais saudáveis
Vídeo: TVNET - Crianças: Dieta reduz ataques epilépticos
O estudo referido na peça acima é este:
The ketogenic diet for the treatment of childhood epilepsy: a randomised controlled trial
Para quem não sabe, uma Dieta Cetogénica consiste numa dieta de muito baixo valor em hidratos de carbono, de tal forma que o corpo passa a ser alimentado mais por corpos cetónicos do que por glucose (note-se que esta é uma condição fisiológica perfeitamente natural), e portanto de muito maior carga lipídica e eventualmente, mas não necessariamente, mais proteica. A isto pode chamar-se Dieta Anti-Epilepsia, Dieta do Dr. Robert Atkins, Dieta Bué Low-Carb, dieta Hiperlipídica, Dieta Mediterrânica Hiperlipídica, Dieta do Baixo IG, etc. Há inúmeras designações mais ou menos (in)correctas e, naturalmente, todas elas fazem imensa confusão à maioria dos "especialistas em nutrição", que só conhecem e aceitam a sua querida Dieta Low-Fat / High-Carb. Mas adiante, continuemos.
O facto a reter é que a ciência da nutrição tem evoluído muito nestas últimas 2 décadas, muito por força de pessoas inteligentes como o Dr. Robert Atkins, que aplicaram à nutrição ideias fundadas em sólidos princípios metabólicos e fisiológicos, e que com isso iniciaram um amplo debate científico (e também anti-científico). Os restantes especialistas e instituições limitaram-se a ficar parados no tempo, até hoje, a dizer que "essas dietas são perigosas a longo prazo". O que é extraordinário, pois as modernas dietas altas em HC só foram possíveis com a agricultura (o pior erro?) e a revolução industrial, nunca antes tendo sido possíveis ao longo da evolução humana. E já agora, convém notar que a nossa evolução se deu ao longo de mais de 2 milhões (2.000.000) de anos, ou seja, muito tempo com dieta low-carb. Se este período é curto, então eu vou ali e já volto! Para os modernos "especialistas", o problema será não ter havido nenhuma equipa de Epidemiologia durante este período a anotar os "danos" para a saúde de uma dieta Paleolítica, de baixo valor em HC modernos, sem cereais/amidos, açucares refinados, frutoses/lactoses em excesso e demais toxicidades modernas?
"Low-carbohydrate diets are a safe, effective way of losing weight, promoting non-atherogenic lipid profiles, lowering blood pressure, diminishing resistance to insulin with an improvement in blood levels of glucose and insulin and they also have neurological and antineoplastic benefits."
Fonte: Arguments in favor of ketogenic diets, J. Pérez-Guisado,
Fac. de Medicina, Univ. Córdoba, Spain.
Mas histórias à parte, o que aqui queria referir é que às dietas de baixo valor em HC (DBVHC), que dependendo do seu grau de restrição em HC podem ser Cetogénicas (menos de 50gr HC) ou simplesmente Low-Carb (menos de, digamos, 200gr HC), estão sempre associadas características terapêuticas PODEROSAS, tais como o tratamento da Diabetes, Síndroma Metabólico, Doenças Cardiovasculares, o tratamento de Epilepsia (ver vídeo acima e ouvir esta entrevista), certos tipos de Cancro (porque as células malignas alimenta-se de mais glucose que as normais), tratamento de inúmeras doenças auto-imunes, eficaz redução de peso corporal, etc. Tenha em atenção, como eu já referi aqui várias vezes, que as pessoas tendem a manter as proteínas constantes e fazem sempre o equilíbrio entre gorduras e HC. Logo, diminuição de HC dá sempre em mais Gorduras. Ui uiii, mais gorduras, sempre o mesmo medo! Repare também que, inversamente, às dietas oficiais de alto valor em HC só estão associados problemas de saúde, intolerâncias alimentares, hiperglicémias/hiperinsulinémias, diabetes, cancro, etc.
Agora você, que até é uma pessoa inteligente, já pode escolher: low-carb ou high-carb?
Gráfico: Tipos de dietas segundo PRAL e carga lipídica.
Base da cálculo: dieta de 2700 kcal/dia. Fonte: Canibais e Reis (2009).
Este tema é infindável, pois claro. Se você quiser aprofudar estes assuntos é obrigatório ler "The Ketogenic Diet - A Complete Guide for the Dieter and Practitioner", de Lyle McDonald, um extraordinário investigador em fisiologia do desporto, altamente considerado internacionalmente pelas suas várias publicações e artigos. Lyle é autor de um website que visito regularmente e recomendo, o Body Recomposition. O livro que refiro é uma jóia para quem adora a Nutrição e acredita que ela merece ser bem tratada, isto é, merece uma abordagem verdadeiramente científica, em plena consonância com a medicina, o metabolismo, a fisiologia, a nutrigenómica, a biologia, o evolucionismo, a paleoantropologia, etc. Abaixo segue um curto extracto da obra em questão relativa à epilepsia. Note que Lyle McDonald se interroga da razão da Dieta Cetogénica ser tão bem aceite para tratamento de crianças com epilepsia, mas ao mesmo tempo ser tão ostracizada no que respeita à sua aplicação na perda de peso corporal. E que eficientes são as dietas cetogénicas neste capítulo, você nem imagina quanto!
THE KETOGENIC DIET - Chapter 2: History of the Ketogenic Diet
Lyle McDonaldBefore discussing the theory and metabolic effects of the ketogenic diet, it is useful to briefly review the history of the ketogenic diet and how it has evolved. There are two primary paths (and numerous sub-paths) that the ketogenic diet has followed since its inception: treatment of epilepsy and the treatment of obesity.
(…)
Epilepsy (compiled from references 1-5)
The ketogenic diet has been used to treat a variety of clinical conditions, the most well known of which is childhood epilepsy. Writings as early as the middle ages discuss the use of fasting as a treatment for seizures. The early 1900’s saw the use of total fasting as a treatment for seizures in children. However, fasting cannot be sustained indefinitely and only controls seizures as long as the fast is continued.
Due to the problems with extended fasting, early nutrition researchers looked for a way to mimic starvation ketosis, while allowing food consumption. Research determined that a diet high in fat, low in carbohydrate and providing the minimal protein needed to sustain growth could maintain starvation ketosis for long periods of time. This led to development of the original ketogenic diet for epilepsy in 1921 by Dr. Wilder. Dr. Wilder’s ketogenic diet controlled pediatric epilepsy in many cases where drugs and other treatments had failed. The ketogenic diet as developed by Dr. Wilder is essentially identical to the diet being used in 1998 to treat childhood epilepsy.
The ketogenic diet fell into obscurity during the 30’s, 40’s and 50’s as new epilepsy drugs were discovered. The difficulty in administering the diet, especially in the face of easily prescribed drugs, caused it to all but disappear during this time. A few modified ketogenic diets, such as the Medium Chain Triglyceride (MCT) diet, which provided greater food variability were tried but they too fell into obscurity.
In 1994, the ketogenic diet as a treatment for epilepsy was essentially ‘rediscovered’ in the story of Charlie, a 2-year-old with seizures that could not be controlled with medications or other treatment, including brain surgery. Charlie’s father found reference to the ketogenic diet in the literature and decided to seek more information, ending up at Johns Hopkins medical center.
Charlie’s seizures were completely controlled as long as he was on the diet. The amazing success of the ketogenic diet where other treatments had failed led Charlie’s father to create the Charlie Foundation, which has produced several videos, published the book “The Epilepsy Diet Treatment: An introduction to the ketogenic diet”, and has sponsored conferences to train physicians and dietitians to implement the diet. Although the exact mechanisms of how the ketogenic diet works to control epilepsy are still unknown , the diet continues to gain acceptance as an alternative to drug therapy.
Other clinical conditions
Epilepsy is arguably the medical condition that has been treated the most with ketogenic diets (1-3). However, preliminary evidence suggests that the ketogenic diet may have other clinical uses including respiratory failure (6), certain types of pediatric cancer (7-10), and possibly head trauma (11) . Interested readers can examine the studies cited, as this book focuses primarily on the use of the ketogenic diet for fat loss.
(…)
A question
Somewhat difficult to understand is why ketogenic diets have been readily accepted as medical treatment for certain conditions but are so equally decried when mentioned for fat loss. Most of the criticisms of ketogenic diets for fat loss revolve around the purported negative health effects (i.e. kidney damage) or misconceptions about ketogenic metabolism (i.e. ketones are made out of protein).
This begs the question of why a diet presumed so dangerous for fat loss is being used clinically without problem. Pediatric epilepsy patients are routinely kept in deep ketosis for periods up to 3 years, and occasionally longer, with few ill effects (3,5). Yet the mention of a brief stint on a ketogenic diet for fat loss and many people will comment about kidney and liver damage, ketoacidosis, muscle loss, etc. If these side effects occurred due to a ketogenic diet, we would expect to see them in epileptic children.
It’s arguable that possible negative effects of a ketogenic diet are more than outweighed by the beneficial effects of treating a disease or that children adapt to a ketogenic diet differently than adults. Even then, most of the side effects attributed to ketogenic diets for fat loss are not seen when the diet is used clinically. The side effects in epileptic children are few in number and easily treated, as addressed in chapter 7.
Fonte: "The Ketogenic Diet", Lyle McDonald.
Ligações relacionadas:
The Ketogenic Diet, Lyle McDonald
History of the Ketogenic Diet, Lyle McDonald
The Rapid Fat Loss Handbook, Lyle McDonald
Arguments in favor of ketogenic diets, J. Pérez-Guisado, Fac. de Medicina, Univ. Córdoba, Spain
Metabolic syndrome and LC ketogenic diets (Dr. Richard Feinman)
Ketogenic diets and physical performance
Multidisciplinary treatment of obesity with a psmf: results in 668 outpatient, AJPH
Protein sparing modified fasting, Frank Butty
Ketogenic diet, Wikipedia
Dietas cetogénicas e obesidade, Maria J. Correia