02 de Setembro, 2009
“Atlas da Mortalidade na União Europeia 2009″, recentemente publicado pelo EUROSTAT, ajuda a manter alguns mitos urbanos que não se deslargam mais da nutrição humana
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Este "Atlas da Mortalidade na União Europeia 2009", recentemente publicado pelo EUROSTAT, inclui não só uma série de estatísticas actualizadas da mortalidade na Europa, mas também vários considerandos que, naturalmente, reflectem o pensamento "mainstream" acerca das causas dessa mortalidade. No que respeita às Doenças do Aparelho Circulatório, as que ocasionam maior mortalidade na nossa Civilização, naturalmente que um dos principais factores de risco é, isso mesmo, você adivinhou, o elevado consumo de gorduras saturadas entupidoras de artérias. Todos os grandes especialistas hoje reconhecem que "o consumo de gorduras saturadas está relacionado com o aumento crescente de doenças ditas da civilização ou degenerativas". O parágrafo a seguir, escrito certamente por algum vegetariano lá desse EUROSTAT, ilustra este (pre)conceito que, na realidade, pasmemo-nos, não possui qualquer validação científica:
"There is little doubt that a more sedentary lifestyle and diets rich in animal fats are an important factor in the causation of atherosclerotic disease. Coronary heart disease, the most important cause of fatal circulatory disease, has been rare in traditional agricultural societies where diets rich in animal fats are less available and food is won by hard manual labour. Smoking, a diet rich in saturated fats and poor in vegetables and fruits, obesity, lack of physical activity and alcohol abuse are important lifestyle causes, which are related to diabetes mellitus type 2, increased blood pressure, increased low density lipoprotein (LDL) serum cholesterol and decreased high density lipoprotein (HDL) serum cholesterol."
Fonte: "Atlas da Mortalidade na União Europeia 2009", pág. 109.
Portanto, para os especialistas pró-vegetarianos do EUROSTAT "há poucas dúvidas" de que as gorduras saturadas, predominantes nos alimentos de origem animal e que sempre consumimos ao longo de 2 milhões de anos de evolução humana, não estejam implicadas nas doenças cardiovasculares, pelo menos a julgar pelo que escrevem na página 109 e em outras passagens do documento agora publicado. Apesar destas inequívocas certezas, umas páginas mais adiante, especificamente na página 117 deste Atlas, podemos ler o seguinte parágrafo, a meu ver extraordinário, porque reconhece a existência de diversos paradoxos relativamente às gorduras saturadas, que afinal não são assim tão letais quanto isso, pelo menos para um certo povo europeu auto-imunizado(?) a estas gorduras inimigas do coração:
"The low levels of ischaemic heart disease in Southern Europe are traditionally explained by the ‘Mediterranean paradox’ (also called the French paradox). French epidemiologists formulated this paradox in the 1980s when they found that the regions of France where heart disease was the lowest, were those regions where animal fats were eaten the most. The main question behind this paradox is why the relatively high intake of saturated fats does not lead to higher risks of heart disease. Moderate consumption of alcohol, together with other subtly beneficial lifestyles are considered to explain this paradox. One of these lifestyles was the “Mediterranean diet”, a heart healthy diet prevalent in the Mediterranean regions: high consumption of olive oil, legumes, unrefined cereals, fruits and vegetables, moderate consumption of dairy products (mostly cheese and yogurt), fish and wine, and low consumption of meat (yet another paradox since the paradox itself is about high observed fat intake in the first place)."
Fonte: "Atlas da Mortalidade na União Europeia 2009", pág. 117.
Ou seja, as gorduras saturadas causam doença cardiovascular e levam à morte a maioria dos seres humanos, excepto os franceses, por alguma razão especial. A isto os nossos especialistas designam "Paradoxo Francês", o qual é explicável, vejam só, porque se bebe mais vinho em França, ou porque se calhar se comem mais cereais integrais e vegetais/fruta naquele país, ou outras fantasias similares. Mas jamais pelo simples facto de que a França é o país mais hiperlipídico do Mundo inteiro. Isto é um mero "detalhe", pois certamente que um incremento significativo num dos 3 principais macronutrientes (os lípidos) da dieta humana em nada influenciará a saúde em geral, inclusivamente a cardiovascular. Trata-se de um mero "pormenor", portanto. Já agora que estamos a mexer com números, vou aproveitar para deixar aqui uma actualização do TOP Hiperlipídico Mundial, utilizando os dados mais recentes, do FAO Statistical Yearbook 2007-2008, que estão acessíveis aqui em formato Excel:
TOP 25 HIPERLIPÍDICO MUNDIAL 2003-2005 (gordura total, gr):
United States of America (164 gr), Luxembourg (164 gr), Belgium (164 gr), France (163 gr), Italy (158 gr), Austria (155 gr), Switzerland (152 gr), Spain (150 gr), Canada (148 gr), Israel (146 gr), Greece (146 gr), Hungary (145 gr), Norway (143 gr), Germany (143 gr), Iceland (142 gr), United Kingdom (137 gr), Portugal (137 gr), Denmark (136 gr), Ireland (134 gr), Cyprus (133 gr), Australia (133 gr), Slovenia (131 gr), Samoa (130 gr), Finland (127 gr), Netherlands (127 gr)
(Portugal está em 17º, estamos bem posicionados, mas há que usar mais azeite e comer mais gorduras de qualquer tipo!) Ou seja, para ser mais preciso, a França era o mais hiperlipídico do mundo em 2003, ano relativamente ao qual elaborei a minha Base de Dados Epidemiológica, mas agora em 2005 parece que está a perder por apenas 1 grama para os EUA, Luxemburgo e Bélgica. De qualquer forma, todos estes países e também a França possuem, na prática, IDÊNTICOS consumos elevados de gorduras totais, facto que, por si só, lhes confere uma altíssima protecção contra doenças cardiovasculares, tal como eu já expliquei detalhadamente no meu artigo "Variabilidade regional da mortalidade cardiovascular na Europa ou como os povos mais protegidos são justamente os mais gordurosos". Portanto, no que respeita ao "paradoxo francês", simplesmente não existe nenhum paradoxo, nem qualquer "anomalia" genética, porque não só a França mas também TODOS os países hiperlipídicos possuem das mais baixas mortalidades cardiovasculares, conforme se pode verificar através deste gráfico por mim elaborado:
(05) - Fats (g/day), 2003
vs
(80) - Age-standardized mortality rate for CVD (per 100 000), 2002
Completamente impressionante, não é? Mas é a realidade incontornável dos números! A Epidemiologia mostra claramente que, para um total de 163 países do mundo, ou seja, quase todos, e não somente os 7 países usados selectivamente pelo Dr. Ancel Keys (e foi por usar tão poucos países que conseguiu produzir um estudo totalmente ERRADO), existe uma associação evidente entre maior consumo de gorduras, de qualquer tipo, e portanto também saturadas, e menor mortalidade cardiovascular. Sim, MAIS GORDURAS e MENOS DCV! Não é uma associação forte, há que dizê-lo objectivamente, mas ela existe. Tal como existem inúmeros estudos onde este facto é observado, eu não estou aqui a inventar nada de novo, designadamente até temos um estudo português que associa maior consumo de gorduras e de colesterol a menor mortalidade por AVC, que é a doença circulatória mais incapacitante em Portugal. Poranto, você que não é especialista de nada, já se deve estar a aperceber que há algo de muito errado em tudo isto.
Apesar de toda a evidência e estudos hoje disponíveis, no ano 2009 as nossas autoridades oficiais e "especialistas", mesmo as responsáveis pela elaboração de estatísticas, e que por isso deveriam ter mais sensibilidade para os números e não falarem somente da boca para fora, ainda não conseguiram entender o óbvio, que salta à vista, e continuam convencidas que o "paradoxo" francês é uma mera casualidade regional. Mas não é, não existe qualquer paradoxo, apenas ignorância de quem não quer reconhecer o evidente, porque TODOS os restantes povos hiperlipídicos possuem também taxas de mortalidade cardiovascular proporcionalmente mais baixas (Inclusivamente os EUA, sim, os EUA, que é actualmente o país n.º 1 mundial em consumo de gorduras, possui baixíssima mortalidade cardiovascular. Você não imaginava que isto pudesse ser assim, pois não? Mais um paradoxo para os nossos "especialistas" tentarem resolver. Os americanos não bebem vinho, será então de jogarem muito baseball, ou de beberem muita Coca-Cola?).
Eu já especulei bastante sobre este assunto neste blogue, o de que GORDURAS SÃO CARDIOPROTECTORAS, afirmando convictamente que não se trata de uma mera associação epidemiológica, mas sim de causalidade demonstrável por mecanismos metabólicos e fisiológicos bem identificados (há que estudar a diabetes para entender isto, porque os diabéticos possuem o triplo de risco cardiovascular), e tendo sempre a precaução de referir que a protecção cardiovascular conferida por um elevado aporte de gorduras totais, DE QUALQUER TIPO, não se deve necessariamente, ou só, à possibilidade das gorduras serem saudáveis para o coração, mas muito provavelmente ao facto dos amidos/frutoses e demais açúcares que se deixam de consumir quando se está a comer mais gordura serem altamente nocivos para a saúde cardiovascular. Dito de outra forma, e porque em nutrição só existe substituição, jamais eliminação, quando se substitui algo muito nocivo por algo menos nocivo, ou algo nocivo por algo saudável, ou algo saudável por algo muito saudável, etc., existe sempre um ganho para a saúde. E é neste tipo de "saldo positivo" que eu estou aqui a falar quando se substituem isocaloricamente cereais/amidos "saudáveis" e frutas por mais gorduras saudáveis, que são necessariamente as que sempre consumimos ao longo da nossa evolução através dos alimentos paleolíticos/tradicionais, ou seja, mono e saturadas (As gorduras vegetais poli-insaturaradas só foram introduzidas com a agricultura e com a revolução industrial, e pelo facto de serem altamente instáveis ao calor e oxidáveis, tendem a degradar-se, tornando-se rançosas e libertando radicais livres, que promovem doença cardiovascular e cancro - Por isto não coma mais dessa "junk food" chamada Margarina, ok?).
A partir daqui, escuso-me a dizer mais coisas. Tire você próprio as suas conclusões…
Eurostat actualiza informação sobre mortalidade nos Estados-Membros da UE, países candidatos e países da EEA/EFTA
O Eurostat, organismo responsável pelas estatísticas da União Europeia, publicou recentemente o Atlas da Mortalidade na União Europeia (UE) 2009.
A publicação descreve a mortalidade nas 272 regiões dos Estados-Membros da União Europeia, países candidatos (excepto Turquia) e países da EEA/EFTA (Islândia, Liechtenstein ou Noruega), por idade e género e pelas principais causas de morte. Os dados foram recolhidos entre 2002 e 2004.
Trata-se da actualização de uma publicação do Eurostat, de 2002, baseada nos dados dos anos 1994-1996.
A mortalidade tem vindo a recuar acentuadamente em todos os países europeus, no último século, sendo que todos eles exibem padrões semelhantes.
Na primeira metade do século XX, o recuo da mortalidade deveu-se ao declínio das doenças infecciosas, que teve um forte impacto sobretudo nas faixas etárias mais novas. Contudo, e em simultâneo, o cancro e as doenças cardiovasculares iniciaram o seu movimento de subida, tornando-se, na segunda metade do século XX, as maiores causas de morte.
Uma outra característica da mortalidade na Europa é a diferença entre sexos. No entanto, verifica-se uma tendência, em alguns Estados-Membros, para o estreitamento dessa distância.
Fonte: Portal da Saúde.