16 de Julho, 2009
Autoridades de saúde, nutricionistas e demais “especialistas” insistem em nos recomendar dietas hiperglicémicas, insulinogénicas e pró-inflamatórias, portanto promotoras de toda a variedade de doenças da civilização
Foto: Momento Bacardi.
São sempre de pasmar os planos nutricionais que estas modernas autoridades e respectivos "especialistas" em obesidade nos propõem, para supostamente combater a obesidade e demais doenças da civilização, onde se incluem as doenças cardiovasculares, a insulino-resistência, a diabetes, dezenas de doenças auto-imunes e tantas outras doenças hiperinsulinémicas adquiridas com base em estilos de vida incompatíveis com o nosso percurso evolucionário. Mas quem propõe estas dietas COMPLETAMENTE exóticas, que nenhum homem primitivo reconheceria como alimento se olhasse para as "chávenas almoçadeiras" em que as apresentam, não deveria já saber disto? Não se dá conta que mais de 50% destas comidas/energias modernas nunca foram consumidas em tempos primitivos e que, naturalmente, isso não augura nada de bom para a saúde em geral? É que em matéria de bioquímica humana, o conceito de "energias alternativas" (com excepção da "energia eólica" = jejum) simplesmente não faz sentido algum!
Mas voltemos à "vaca fria", ou seja, a estas nossas dietas "high-carb", "low-fat". Se você reparar bem, elas são todas iguais, praticamente destacadas umas das outras, por norma hiperglicémicas e pró-inflamatórias, baseadas em alimentos na sua maioria estranhos ao genoma humano, e portanto potenciadoras, por mais paradoxal que possa parecer, de uma multiplicidade de intolerâncias alimentares, doenças auto-imunes, problemas crónicos, etc. Deixo aqui apenas meia dúzia de exemplos, mas se eu me desse ao trabalho até encontraria mais dez ou vinte ou trinta exemplos destas dietas sempre iguais, "low-fat", semi-vegetarianas (e potencialmente perigosas):
- Planos Alimentares do Programa Comunitário Peso, elaborados pela Faculdade de Motricidade Humana;
- Menu equilíbrio, da Associação Portuguesa de Dietistas, desenvolvido para a Dir.-Geral da Saúde e Plataforma contra a Obesidade;
- "Dieta Económica", da Associação Portuguesa dos Nutricionistas;
- "Dieta de Verão" (ver página 6), igualmente elaborada pela APN;
- Dieta da Catarina Furtado, uma proposta da Clínica Metabólica da Dr. Teresa Branco;
- Recomendações do Núcleo de Doenças do Comportamento Alimentar, coordenado pela Dr. Isabel do Carmo;
- Roda dos Alimentos da Direcção-Geral de Saúde;
- Etc, etc, etc.
Portanto, você já está a perceber a lógica, os alimentos "funcionais" que não podem faltar numa dieta "saudável" oficial são, logo a começar o dia, leite magro, bolachas, tostas integrais, margarina, iogurtes e/ou sumos de fruta, portanto TUDO em alta carga glicémica, nada de proteínas ou de gorduras a abrir o dia, porque estes grupos de macro-nutrientes, completamente dispensáveis, por acaso até não têm nada a haver com a saciedade ao longo do dia. E também porque "cereais mais leite constituem um óptimo pequeno almoço" e ainda porque "o leite não deve ingerir-se sozinho, [...] para ser bem utilizado depende da ingestão de farináceos", apesar de nestes últimos 2.4 milhões de anos, excluindo o período pós-domesticação animal, surpresa, surpresa, surpresa, não terem jamais sido consumidos leite não-materno nem cereais de qualquer tipo pela espécie humana.
Mas os especialistas de hoje em dia recomendam ambos vivamente e acham que são muito "saudáveis"! Penso que a lógica subjacente é que estes cereais e lacticínios proporcionam altas glicémias e insulina alta, e portanto dão "energia" e isso significa "força". Trata-se, por isso, de um raciocínio sem qualquer fundamento, porque todos os alimentos fornecem energia, até a fibra alimentar! Depois, o almoço, um momento igualmente hipoproteico e hipolipídico, deve ser composto de esparguetes, purés de batata, arroz e/ou afins, portanto de um belo "caldo insulinogénico", sempre com doses vestigiárias de peixe/carne, e sem gorduras visíveis. De facto, até faz sentido, porque o excesso de proteínas, sabemos hoje, conduz a inevitáveis problemas renais, convém não abusar. O jantar será quase igual ao almoço, também muito pobre em gorduras, e, de preferência, nulo em saturadas. Isto porque "hoje sabe-se que o consumo de gorduras saturadas está relacionado com o aumento crescente de doenças ditas da civilização ou degenerativas".
Naturalmente que, em defesa destas dietas incompatíveis com a saúde humana, fisiologicamente insustentáveis e até, segundo alguns especialistas, potencialmente perigososas, é sempre possível alegar que, ao menos, não engordam porque são hipocalóricas, de apenas 1800 calorias ou ainda menos. Mas aqui reside o mais completo logro, porque nenhum ser humano consegue manter, de forma voluntária e sustentada, por mais de 2 ou 3 semanas, dietas hipocalóricas repletas de cereais e lacticínios, portanto pró-hiperglicémicas e insulinogénicas, pois estas desregulam por completo os mecanismos de saciedade/fome, de metabolismo da glucose, elevam insulina/leptina, etc. Por outras palavras, ninguém come apenas 3 bolachas Maria, come logo o pacote todo. Ninguém come só 30gr de queijo magro, como logo um queijo inteiro, e por aí em diante. E é claro, entenda-se, quando se excedem estas mini-doses, absolutamente teóricas, a culpa da dieta falhar nunca será do seu proponente. Não admira que nenhuma dieta funcione!
Por fim imaginemos, hipoteticamente, a situação surreal de um nutricionista paleolítico, que nos viesse propor um pequeno-almoço de sopa (sem tubérculos/batatas), "para alcalinizar", acompanhada de um par de ovos cozidos, "para colesterolizar o cérebro", seguido de uma colherada de óleo de fígado de bacalhau, "para olear as artérias com ómega-3", ou, em alternativa, de óleo de coco rico em gordura saturada (ácido láurico), "para imunizar". Seria imediatamente apelidado de louco! Ou, no mínimo, de antiquado. Dir-lhe-iam que os tempos primitivos já passaram, que já não andamos de peles mas antes de fato e gravata. Ou que os tempos da pobreza já passaram, que isso foi na época dos nossos avós, em que a escassez era inevitável, pelo que não havia alternativas mais saudáveis. Por outras palavras, o macaco já não está nu, ficou civilizado e com isso, se calhar, também a sua biologia mudou e isso, supostamente, permite-lhe igualmente mudar TOTALMENTE a sua nutrição. Não há maior ilusão!
Por isso hoje em dia, em nome desta ilusão da modernidade e do progresso científico, que supostamente resolverão todos os problemas da civilização, apesar de ainda não terem resolvido nenhum, só criaram ainda mais, os "especialistas" querem nos fazer acreditar, sem sequer suportarem as suas ideias em qualquer paradigma científico, biológico e/ou evolucionário, por exemplo, que devemos abandonar a manteiga, cheia de colesterol, e passar a comer muita margarina e respectivos óleos vegetais "saudável", abandonar as proteínas animais causadoras de cancro e passar a combinações de proteínas vegetais, deixar de comer fígado e ovos por causa do colesterol alto, abandonar as gorduras saturadas porque entopem artérias e causam doenças cardiovasculares, deixar de comer gorduras porque, como o próprio nome indica, engordam, etc, etc, etc.
Quem acredita nestas ideias modernas certamente também acreditará que a nossa amiga "low-fat" do momento Bacardi, na foto acima, durante o dia também é uma introspecta jovem bibliotecária. E se calhar até é, sei lá;) Mas não haja dúvida, as pessoas adoram acreditar em coisas estranhas, portanto venham daí mais dietas low-fat, semi-vegetarianas para ficarmos todos muito mais "saudavéis"! E já agora, p’ra mim, também um vodka Bacardi!