12 de Setembro, 2009
Sobre a ideia pós-modernista de que “o exercício não emagrece”, ou como o legado pseudo-científico de Gary Taubes só contribui para mais e mais desinformação
Eu já escrevi sobre este tema no meu artigo "A actividade física regular, donde se destaca a caminhada, o simples andar a pé, não só é fundamental para a gestão de um peso saudável, como também é fisiologicamente indispensável à saúde humana", mas como estamos a ser constantemente bombardeados por este artigo jornalístico cientificamente irrelevante de John Cloud, volto a acrescentar aqui mais algumas ideias. No artigo "Algumas explicações sobre a Vitamina D, fornecidas num artigo recente do Dr. Michael Eades, do Protein Power", o Dr. Eades explicava como estas revistas sensacionalistas preparam os seus artigos "científicos". Ora, este que agora serve de capa à actual Revista Visão até foi mais simples de fazer, bastou traduzir o artigo recente de John Cloud na TIME, o qual, como o próprio nome ("Cloud") indica, é um artigo bastante "nebuloso", isto é, em nada abonatório da ciência.Isto porque o pressuposto de base ao racíocinio em questão, e que mais não é do que um copiatório das ideias pós-modernas de Gary Taubes sobre este assunto, é o de que o exercício aumenta muito o apetite, de tal forma que quanto mais você se exercitar mais fome terá e assim jamais perderá peso. E em alguns casos, supostamente essa fome fica tão aumentada que a própria prática do exercício só o tornará ainda mais gordo. Estes raciocínios anti-intuitivo são muito giros para publicar nestes pasquins semanais, como é o caso da Revista Visão e similares mas, não se deixe enganar, no que respeita a rigor científico não têm qualquer validade. E passo a explicar a seguir.
Vídeo: HighlineAC.
Primeiro, é preciso ter presente que os low-carbianos Taubianos possuem um transtorno obcessivo-compulsivo anti-carbs e anti-insulina (e estas coisas elevadas são mesmo más, isso não se contesta), de tal ordem que culpam integralmente esta hormona anabólica pelo ganho de peso, e com isso ignoram por completo a variável fundamental, que é o aporte calórico. Por outras palavras, recusam-se a aceitar que perda de peso só ocorre com défice calórico, facto este que todos os estudos estritamente controlados (de internamento, "metabolic ward") corroboram. E a reboque desta ideia delirante assumem, tanto quanto consigo entender, que mais exercício só aumenta o apetite e os níveis de insulina, proporcionalmente à intensidade desse exercício, o que só conduz a mais ganho de peso. Apenas para exemplificar isto, refiro aqui um "debate" recente em resultado do artigo "Lean Times", de Fred "Slowburn", outro discípulo de Taubes, no qual eu também apareci a comentar. Você pode ler esse artigo aqui. A minha argumentação é a mais elementar e de bom senso, baseada não só em princípios energéticos elementares como em evidência anedótica que toda a gente entende. Mas é claro, algumas pessoas gostam de explicações complexas, fazendo questão de acreditar em coisas estranhas. E é claro, também não convém citar Anthony Colpo (o meu autor favorito!) junto de um discípulo de Taubes, por razões que qualquer um entenderá.
The idea that exercise doesn’t help in weight loss has no scientific basis, as the other commenters already pointed out, and from an evolutionary perspective doesn’t make sense. Also, I wonder how people even believe these kind of myths. If exercise was irrelevant for weight loss, you would expect to see quite a few really fat individuals in wekend sport events, at least as much as the percentage of sedentary people. But this is no the reality, most people who pratice some sport, don’t have a car and have to walk to work, are generally thiner and healthier. Perhaps this is just an epidemiological association? All very successful weight loss stories start with a couch potato guy turning of the TV, standing up and start walking 7 days/week, 1 hour/day. Forget about Taubes/Cloud fantasy ideas about exercise and please read some Anthony Colpo, starting from pages 74 to 77 from this document: www.thefatlossbible.net/They_Are_All_Mad.pdf
Autor: O Primitivo (Canibais e Reis).
Vai daí e o nosso amigo começa a barafustar com tudo e com todos os que aparecem a dizer o contrário nesse artigo, e que por acaso até são a maioria. Eu destacaria o que um tal de Mike escreveu, designadamente os artigos/papers que cita em suporte das calorias (vs insulina) e que, naturalmente, mostram que a variável fundamental no controlo de peso é (surpresa!) o aporte calórico, e não a insulina como pretende o lóbie taubiano. Eu ainda me dei ao trabalho de acrescentar mais alguma argumentação, e que foi a abaixo transcrita. Note-se só o exemplo que eu apresentei, e que a meu ver me parece bastante bom, que é o caso dos atletas profissionais quando terminam a carreira. O que é que, por regra, acontece nessa altura? Sim, isso mesmo, começam a ganhar peso. Porquê? Vamos adivinhar, será muito difícil? Porque deixaram de praticar desporto! Bingo! Mas Cloud e Taubes não entendem isto. Estão convencidos que supostamente deveriam começar a perder peso, porque se o exercício aumenta o apetite proporcionalmente, ou até mais, então ao deixar de praticar desporto o indivídou deveria começar a emagrecer brutalmente. Mas isso não acontece no mundo real, pois não? O que é que Fred "Slowburn" responde a isto? Diz que os atletas reformados são ricos (?) e passam a comer muito mais após terminarem a carreira. Enfim.
Dear Fred, weight loss is loosing any type of weight, either lean or fat. Loosing fat is the main objective, of course. But it is reasonable to also accept some lean mass loss, as the body won’t have to carry so much extra weight. Exercising your muscles will send them the message that they are necessary and so their lean mass must be preserved or even increased. Our ancestors had a high level of energy expenditure, they exercised a lot, they walked kilometers every day and they didn’t have easy access to food. The more they wanted to eat, the more energy they had to expend. In other words, they weren’t sedentary as us, they exercised/walked frequently, and so weren’t fat. I must agree when you say "there are plenty of active, fat people and plenty of sedentary lean people", but certainly most active people are thin and most sedentary is fat. I was referring to runners (chronic cardio), you generally don’t see overweight people in 10K or Hal-Marathon races, and their diets are no different from the average typical diet. This is not epidemiology because the energetic balance that leads to weight loss is well understood, except by Taubes - create a calorie deficit, by eating less and exercising more, and you’ll loose weight. Doesn’t matter if your diet is ketogenic, high-carb or MacDonalds. Isocaloric metabolic wards don’t prove any advantage of varying macro-nutrients, but of course low-carb provides better/easier appetite control. You say that "No one ever lost an ounce by exercising and not altering their diet" so how do you explain the case of several professional athletes that end their careers, when they are 30 or 40 years old, and immediately start putting weight? They certainly don’t alter their diets much and at the same time, because they stopped their intense activity, are no longer able to maintain an isocaloric condition. So they start gaining weight. If these post-modern exercise ideas were correct, as they stopped exercise they would immediately loose all their appetite, and perhaps even start loosing weight, isn’t it? But the contrary occurs much more frequently. I don’t know how many studies there about or related to weight loss, probably 1 million? Certainly not a single one of them escaped this simple law of nature, which is: weight loss occurs only if a calorie deficit is created, and you can achieve this with diet (eat less), exercise (exercise more) or preferably both approaches.
Autor: O Primitivo (Canibais e Reis).
Eu confesso que até fico um bocado confuso com tudo isto, com este rapaz Fred Han, que por acaso até é autor de um livro sobre actividade física, que fala do método slow-burn. Se o exercício é uma coisa assim tão irrelevante então porque é que não publicou antes um livro sobre posições de sofá, por exemplo, como estar deitado no sofá e beber Coca-Cola em simultâneo, ou como estar sentado no sofá, com as pernas esticadas e sem derrubar a bandeja do McDonalds? Quanto à Revista Visão, a única recomendação que lhe posso dar é que não se informe nela, não tem qualquer credibilidade científica nos artigos sobre nutrição/ exercício/ saúde, e tem demonstrado isso artigo atrás de artigo, sistematicamente. Tenha sempre em conta que a ciência credível não é feita de espectacularidade ou de foguetórios, e muito menos de evidência anedótica, como o jornalista Cloud pretende, ao citar-se como exemplo no seu artigo, mas sim de hipóteses formuladas com base em sólida epidemiologia e devidamente demonstradas em estudos de intervenção. Por outras palavras, sensacionalismo é usualmente inversamente proporcional a ciência credível, consistente, duradoura. Portanto, se você quer estar de facto bem informado, deite estas revistas todas para o lixo e faça-o através da Ciência. E se quer de facto mudar o seu estilo de vida e atingir um peso saudável, deite o artigo de Cloud no lixo e faça como o rapaz do vídeo acima: comece a praticar exercícios de força agora mesmo, com regularidade e consistência no tempo!