18 de Abril, 2009
Estudo PORMETS estima prevalência de síndroma metabólico da ordem dos 30% na população adulta portuguesa
Autor: O Primitivo. Categoria: Civilização| Saúde
Vídeo: "Síndrome Metabólico",
Tiempo de Salud (25/06/08).
O estudo PORMETS, de prevalência da síndroma metabólica em Portugal, actualmente em curso e a ser conduzido pelo Grupo de Estudo da Insulino-Resistência da SPEDM, nasceu em Outubro de 2006 e resulta da parceria entre o GEIR e a equipa chefiada pelo Prof. Dr. Henrique Barros, do Serviço de Higiene e Epidemiologia da Faculdade de Medicina, com o patrocínio da empresa Bayer Healthcare. Este estudo foi para o terreno em Fevereiro de 2007 e já conta com a participação de cerca de 3000 pessoas, o que corresponde a aproximadamente 3/4 da amostra pretendida, que deverá totalizar 4320 participantes. Pretende-se finalizar o estudo durante o primeiro semestre de 2009, mas já estão disponíveis alguns resultados preliminares, por sinal nada animadores no que respeita à (falta de) saúde geral dos portugueses. Pode fazer o download dos resultados preliminares deste estudo, em formato pdf, clicando aqui (11.4 Mb).
Conclusões principais do PORMETS - nota: preliminares
Valores tensionais elevados (TA > 130/85) na população portuguesa (52.8%);
Hipertrigliceridemia muito prevalente no sexo masculino (cerca de 30%);
HDL baixo de acordo com 3 definições muito prevalente nesta amostra (cerca de 50%);
Hiperglicemia em jejum (>100 mg/dl) com prevalência elevada, em particular no sexo masculino;
Medidas práticas de insulino-resistência: insulinemia (P5 - 2.4 microUI/ml e P95 20.8 microUI/ml) e HOMA (P5 0.44 e P95 6.55).
Fonte: Manual de Insulino-Resistência (GEIR/SPEDM).
Fonte: Manual de Insulino-Resistência (GEIR/SPEDM).
Os resultados preliminares agora obtidos, não sendo uma grande surpresa, são mais que motivo para declarar 30% da população portuguesa, com mais de 18 anos, em elevado risco de desenvolver todas as doenças crónicas (e mortais) da civilização, como diabetes, cancro/câncer, doenças cardiovasculares, doenças auto-imunes, etc. Convém notar que esta população de risco traduz-se, na prática, de acordo com as estatísticas de 2005, em cerca de 2,8 milhões de pessoas. No caso português, estas doenças da civilização até se descrevem melhor como doenças da afluência, ou dos excessos, tal é o regime hipercalórico em que vivemos. Em 2003, de acordo com dados da FAO, éramos "apenas" o 2º país do mundo com a mais alta ingestão calórica, de 3750 kcal/dia, apenas sendo superados pelos EUA. Por outras palavras, estamos a comer não só mal, mas também alarvemente!
Não admira portanto que agora estejamos com 30% da população adulta com síndroma metabólica (2.800.000 pessoas), muitos dos quais, se ainda não são diabéticos, muito em breve se começarão a juntar aos 12% de diabéticos existentes em Portugal (900.000 pessoas, das quais 400.000 nem sabe que possui este distúrbio metabólico). Dos valores preliminares apresentados pelo PORMETS, saltam naturalmente à vista os valores altos de insulina em jejum (médias de 7.65 microUI/ml nos homens e 8.00 nas mulheres), muitíssimo mais elevados que a de povos primitivos como por exemplo os Kitava, cuja insulina rondará 3.4 a 3.9 microUI/ml, independentemente da idade. Por regra, uma insulina em jejum acima de 10.0, por si só, já é um critério-diagnóstico suficiente de síndroma metabólico. Cerca de 25% dos portugueses terão insulina acima de 11.5 microUI/ml, e uma minoria, da ordem de 5%, acima de 20.8 em jejum. Para você perceber melhor o que é isto da insulina e dos danos associados a valores crónicos elevados, sugiro que leia e oiça o Dr. Ron Rosedale falando sobre insulina.
Vídeo: Moderate exercise can cut rate of metabolic syndrome.
Uma pergunta que se poderá colocar, agora, é como conseguir valores altos de insulina, através do estilo de vida e da dieta, ao ponto de começar a ser assolado pela constelação de sintomas da Síndroma Metabólica? Algumas ideias simples: passe dias e noites bem sedentários, sentado no sofá, vendo televisão, acreditando em toda aquela publicidade. Evite andar a pé a todo o custo, use ao máximo o seu automóvel. Estacione em cima dos passeios, sempre que possível, para minimização de percursos. Evite a exposição solar a todo o custo, só causa cancro. No que respeita à nutrição, "adopte uma alimentação saudável, variada e equilibrada", de preferência baseada na pirâmide alimentar oficial, consumindo muitos hidratos de carbono integrais "saudáveis", como o trigo e demais amidos/farinhas. Minimize a ingestão de gorduras de qualquer tipo, principalmente as saturadas, porque são gorduras animais, coma muita margarina, porque é feita de óleos vegetais, acredite em tudo o que as autoridades de saúde e blogues como este lhe transmitem, etc.
Vídeo: Healthbeat - Metabolic Syndrome.
O Estudo PORMETS
"O PORMETS é um estudo transversal que pretende avaliar a prevalência da síndrome metabólica em Portugal continental e por distritos, é da responsabilidade científica do Grupo de Estudos da Insulino-Resistência (GEIR) da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo (SPEDM), sob a coordenação do Dr. Luis Raposo, e conta com a parceria do Serviço de Higiene e Epidemiologia da Faculdade da Medicina do Porto, dirigido pelo Prof. Dr. Henrique Barros, que dá o apoio epidemiológico sob a coordenação da Prof. Dra. Ana Cristina Santos. Este estudo tem o apoio financeiro exclusivo do laboratório farmacêutico Bayer Health Care.
O estudo teve início formal em Outubro de 2006, com o seu desenho e planeamento. A autorização da Comissão de Ética para a Saúde do Hospital S. João foi dada em 12 de Fevereiro de 2007. A autorização da Comissão Nacional de Protecção de Dados foi obtida em 19 de Junho de 2007. A síndrome metabólica é definida utilizando os critérios ATP III, AHA/NHLBI e IDF. Todos os participantes no estudo têm idade igual ou superior a 18 anos e assinam a declaração de consentimento. Os participantes são seleccionados aleatoriamente por listas gerais dos médicos dos centros de saúde, sendo incluídos 2 centros de saúde por distrito, o que perfaz um total de 36 centros do território nacional continental. Em cada centro são avaliados 120 indivíduos, obtendo-se uma amostra total de 4320 participantes.
São recolhidos dados sobre a caracterização sócio-demográfica, antecedentes pessoais e características comportamentais. Avaliam-se dados antropométricos, nomeadamente peso, estatura e perímetros (braço, cintura e anca) e pressão arterial. Efectua-se ainda uma recolha de sangue em jejum para doseamentos sanguíneos (glicose, insulina, coles-terol total, LDL, HDL, triglicerídeos e PCR de alta sensibilidade). Encontram-se disponíveis os resultados preliminares do estudo PORMETS, referentes a uma amostra de 2694 participantes, pertencentes a 24 centros de saúde de todo o país.
A prevalência da síndrome metabólica na amostra estudada foi estimada em 27,5%, 33,1% e 38,8% de acordo com os critérios ATP III, AHA/NHLBI e IDF respectivamente. A prevalência de obesidade central estimada de acordo com os critérios ATP III, AHA/NHLBI e IDF é maior no sexo feminino. Destaca-se a elevada prevalência de obesidade central na mulher portuguesa (superior a 50% qualquer que seja a classificação utilizada), sugerindo que os critérios utilizados para a classificação de obesidade central, nomeadamente os critérios IDF, podem não ser adequados à população portuguesa. A avaliação do perfil lipídico de acordo com os critérios AHA/NHLBI e IDF mostrou uma prevalência estimada de hipertrigliceridemia de 23,7% e de HDL baixo de 53,3%. A glicemia elevada em jejum, de acordo com os critérios AHA/NHLBI e IDF, teve uma prevalência estimada respectivamente de 17,9% e 21,4%. Foram encontrados valores tensionais elevados, de acordo com as três classificações consideradas, em 52,8% dos participantes no estudo. Foi ainda avaliada a distribuição dos valores da insulinemia por quartis. O estudo PORMETS encontra-se em fase avançada de concretização, aguardando-se a sua conclusão durante o primeiro semestre de 2009."
Fonte: Manual de Insulino-Resistência (GEIR/SPEDM).
Ligações relacionadas:
Grupo de Estudo da Insulino-Resistência (GEIR)
Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo (SPEDM)
Sociedade Portuguesa de Diabetologia (SPD)
Resistência à insulina (Wikipedia)