30 de Março, 2009
Saúde, condição física, nutrição e exercício em sociedades primitivas, por Pedro Bastos
Autor: O Primitivo. Categoria: Primitivos| Saúde
Fonte: Saúde, condição física, nutrição e
exercício em sociedades primitivas,
por Pedro Bastos (2009).
No seu artigo "Saúde, condição física, nutrição e exercício em sociedades primitivas", publicado na revista Nutrição, Saúde e Performance, o investigador Pedro Bastos (*), do Institute of Paleolithic Nutrition, começa por referir como as profundas alterações ambientais, sociais e culturais que ocorreram nos últimos 10 mil anos, que se iniciaram com a agricultura e domesticação dos animais, e se agravaram após a Revolução Industrial, são demasiado recentes à escala evolucionista para que o nosso genoma humano se tenha adaptado.
Com efeito, como refere o artigo, a maioria do genoma humano é composto por genes seleccionados em África, durante o Paleolítico, o que é atestado pelos diversos estudos genéticos (veja-se o projecto genográfico) e antropológicos que indicam que todos os seres humanos, de todos os continentes, têm uma origem africana comum, numa população de Homo Sapiens de pouco mais de 1000 indivíduos que terá emigrado para a Eurásia há cerca de 56.000 anos. Esta teoria é reforçada pelo facto de haver menor diversidade genética entre seres humanos com o maior distanciamento do continente africano.
Pedro Bastos acrescenta que as citadas alterações genéticas, na sua maioria ocorridas desde o Neolítico, não se terão devido a alterações da dieta e dos hábitos de exercício e sono, mas antes a agentes infecciosos, patologias e condições ambientais adversas e não se destinam a aumentar a longevidade e resistênciaa doenças degenerativas crónicas, mas sim ao incremento da sobrevivência e do sucesso reprodutivo, mesmo que possam trazer efeitos adversos nos anos pós-reprodução. Ou seja, a evolução dá-se sempre no sentido de propagação da espécie, e não do aumento da sua longevidade.
Citando Nesse e Williams, é-nos ainda explicado que os povos caçadores-recolectores (C/R), bem como outros povos primitivos minimamente afectados pelos hábitos de vida modernos, exibem marcadores de saúde, composição corporal e condição física superiores aos de populações de países desenvolvidos, nomeadamente:
- Níveis de colesterol plasmático total significativamente menores em populações primitivas versus norte-americanas;
- Menor Pressão arterial sistólica (PAS) e diastólica (PAD) em C/R, sendo a média de 100-110 mmHg de PAS e 70-75 mmHg de PAD;
- Maior sensibilidade à insulina em populações com estilo de vida primitivo;
- Menor insulinemia em horticultores de Kitava (Papua-Nova Guiné) relativamente a uma amostra de suecos;
- Leptinemia substancialmente mais baixa em C/R do que em agricultores, horticultores de Kitava versus amostra de suecos e nos Índios Ache do Paraguai em relação a uma amostra de corredores norte-americanos;
- Menor Índice de Massa Corporal em C/R e outros povos não ocidentalizados em relação a países industrializados;
- Menor relação entre perímetro da cintura [cm] e altura [m] em indivíduos de Kitava versus Suecos;
- Menor prega tricipital [mm] em C/R relativamente a norte-americanos;
- Maior Consumo Máximo de Oxigénio em C/R e pastoralistas relativamente a norte-americanos;
- • Maior acuidade visual em C/R e horticultores;
- Menor incidência de fracturas em populações rurais versus populações urbanas;
- Menor incidência de fractura nos habitantes de Papua-Nova Guiné versus ocidentais;
- Melhores marcadores de saúde óssea em C/R relativamente a agricultores primitivos e habitantes de países desenvolvidos, com excepção dos Esquimós do Alasca e Canada;
- Incidência muito baixa de doenças degenerativas crónicas, como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, cancro e inclusive acne em C/R, quando comparados com habitantes de países ocidentais.
É referido que quando estes povos são aculturados ao estilo de vida moderno, o seu risco de doenças degenerativas crónicas torna-se similar ou mesmo superior ao de populações urbanizadas, mas revertendo-se quando voltam ao seu estilo de vida primitivo, o que atesta bem da superioridade dos C/R e outros povos primitivos, em termos de saúde, composição corporal e condição física, não devido aos genes, mas sim aos factores ambientais.
É então estabelecido um paralelo com o Pleistoceno, com base numa cronologia de alimentos ingeridos e de consumos e de dispêndios de energia em primatas, humanos incluídos, para se concluir que a repartição energética de macro-nutrientes das possíveis dietas seguidas no Pleistoceno difere substancialmente das recomendações oficiais e das dietas seguidas por populações ocidentalizadas. São então estabelecidas importantes recomendações respeitantes a esta distribuição energética, mas também a quantidades de aminoácidos da cadeia ramificada, carga glicémica na dieta e fibra, densidade de micro-nutrientes, carga ácida da dieta e equilíbrio ómega-3 / ómega-6.
Pedro Bastos conclui o seu artigo realçando que a adopção de um estilo de vida que não está em consonância com aquele que moldou o genoma humano durante 2,4 milhões de evolução representa um risco acrescido de doenças degenerativas crónicas que pode, no entanto, ser contrariado, pela prática regular de exercício físico variado, exposição solar regular e adequada e padrões de sono adequados e regulares.
A isto acresce necessariamente a adopção de uma dieta semelhante à praticada pelos caçadores-recolectores do Pleistoceno, tendo por base peixe, marisco, frutas, vegetais, raízes e tubérculos, oleaginosas e sementes e suplementada com ovos e carne de animais alimentados com vegetais e não cereais, a qual, em conjunto com o estilo de vida atrás referido, poderá conduzir a um estado de saúde óptimo.
Pode fazer o download deste extraordinário artigo de Pedro Bastos aqui: saude-nutricao-exercicio-sociedades-primitivas.pdf (809 kb).
(*) - Pedro Bastos é membro da New York Academy of Sciences, da International Society for the Study of Fatty Acids and Lipids e da International Society of Sports Nutrition, e está actualmente a terminar o seu mestrado em Nutrição e Dietética através da Fundación Universitaria Iberoamericana (Espanha), com uma tese intitulada "O papel do Leite e seus Derivados na Saúde Humana".
Possui pós-graduação em Exercício e Saúde pela ESDRM (Escola Superior de Desporto de Rio Maior, Portugal), onde estudou o papel do exercício em pacientes transplantados e também obteve especialização em Treino Personalizado. Está igualmente certificado como Instrutor de Musculação e Cardiofitness pelo CEF (Centro de Estudos Fitness) e pelo CEFAD (Centro de Estudos e Formação de Actividades Desportivas), duas escolas portuguesas de fitness.
Entre 2001 e 2004 trabalhou como Instrutor de Musculação e Cardiofitness, bem como Treinador Pessoal, no Health Clube Squash Soleil, em Lisboa.
Desde 2005 contribui regularmente com diversas publicações de saúde e fitness portuguesas, e dá palestras em convenções nacionais e internacionais, simpósios e conferências, acerca de tópicos relacionados a nutrição, saúde e performance. A sua linha de investigação mais recente centra-se no leite e seus derivados, tendo realizado apresentações neste tópico em várias cidades brasileiras, em Setembro de 2008, no 1º Congresso Ibérico Anual sobre Medicina Anti-Envelhecimento e Tecnologias Biomédicas, que decorreu no Estoril, Portugal, em Maio de 2008, e no Congresso Internacional de Nutrição Clínica Funcional, em São Paulo, no Brasil, em Julho de 2007.
Actualmente é consultor em ciências da nutrição, para algumas empresas e clínicas médicas em Portugal e no Brasil, sendo ainda membro do conselho editorial do jornal de nutrição técnico brasileiro Nutrição, Saúde e Performance, editado pela VP Consultoria Nutricional.
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