02 de Março, 2009
Carga ácida da dieta e implicações na osteoporose e sarcopenia
Autor: O Primitivo. Categoria: Dieta| Primitivos| Saúde
Fonte: Carga Ácida da Dieta e implicações na Osteoporose e Sarcopenia.
por Pedro Bastos (2008).
“Carga Ácida da Dieta e implicações na Osteoporose e Sarcopenia” é um artigo da autoria de Pedro Bastos (*), investigador de que já aqui falámos, a propósito de outro seu artigo, o "Ácidos Gordos Ómega-3 no Desporto", ambos publicados na revista Nutrição, Saúde & Performance. Neste novo artigo é explorada a possibilidade de estados crónicos de ligeira acidose metabólica em idosos, potenciados pelo declínio da função renal com a idade, serem factores determinantes no aparecimento e evolução da osteoporose e sarcopenia.
Este artigo de Pedro Bastos explica-nos, recorrendo aos conceitos de fisiologia renal e de regulação homeostática, de que modo a dieta de cada indivíduo pode afectar o equilíbrio ácido-base renal, resultante da produção ácida endógena líquida (PAEL), a qual consiste na quantidade líquida de ácido, subtraído da base, produzido diariamente pelos processos químicos do metabolismo dos alimentos. E de notar que, para uma saúde óptima, pretende-se uma PAEL negativa ou pelo menos neutra, isto é, com carga tão alcalinizante quanto possível.
Ora, estudos realizados por Frassetto e colaboradores, envolvendo o cálculo da carga potencial ácida líquida para os principais grupos de alimentos de uma dieta moderna, chegaram à conclusão de que os únicos alimentos verdadeiramente alcalinizantes são os vegetais e as frutas, e de que a típica dieta americana gera uma PAEL de, aproximadamente, +48 mEq/dia. Neste equilíbrio ácido-alcalino há a destacar, pela negativa, os alimentos “vazios” (como os óleos e o açúcar), que apesar de serem neutros ocupam o lugar de alimentos alcalinizantes, contribuindo assim para a carga acidificante.
Os citados investigadores defendem, à semelhança do grupo de investigação da paleodieta, por razões ligadas ao à evolução do homem e à genética das populações, que os seres humanos estarão geneticamente mais adaptados à dieta dos povos caçadores-recolectores do Pleistoceno do que à típica dieta recomendada por várias modernas instituições de saúde, que recomendam os cereais, os óleos e o açúcar, alimentos estes que só começaram a fazer parte da dieta humana a partir do período Neolítico, ou seja, a partir do advento da agricultura.
Tendo subjacente este princípio ou paradigma evolutivo, Frassetto e colaboradores realizaram uma simulação que consistiu em retirar da dieta americana típica acidifcante esses alimentos mais recentes, recentes do ponto de vista evolutivo, os cereais, os óleos e o açúcar, substituindo-os por vegetais e frutas. O resultado foi uma dieta com saldo alcalinizante, a qual parece ter sido a norma durante a evolução do homem enquanto espécie.
Em “Carga Ácida da Dieta e implicações na Osteoporose e Sarcopenia” é referido então, tendo por base estudos de diversos autores, que as típicas dietas ocidentais tendem a produzir a já referida carga positiva/ácida que, associada ao declínio renal no envelhecimento, induz um estado crónico de acidose metabólica ligeira, a longo prazo propiciadora de uma diminuição progressiva da densidade mineral óssea e de risco aumentado de osteoporose.
Para evitar esta situação é portanto necessário atingir um verdadeiro estado não acidótico nos idosos, o que tem de passar, no parecer do autor deste artigo, por uma revisão das actuais recomendações nutricionais tradicionais. A este respeito é referido que as convencionais fontes de hidratos de carbono, designadamente as massas, o arroz, os flocos e o pão, ainda que na sua versão integral, bem como os lacticínios, em especial os queijos, produzem uma carga ácida, pelo que deveriam ser substituídas por vegetais (brócolos e couves, por exemplo, são uma boa fonte de cálcio, com uma percentagem de absorção intestinal similar à do leite), frutas e tubérculos. Estes últimos alimentos são ainda hoje as principais fontes de hidratos de carbono de algumas sociedades primitivas, como os Ache do Paraguai e os habitantes de Kitava, na Papua-Nova Guiné, onde a incidência das chamadas doenças da civilização é rara ou inexistente.
O artigo termina concluindo que as evidências indicam que a acidose metabólica crónica ligeira, induzida pela dieta e agravada pela diminuição renal no envelhecimento, pode agravar ou acelerar a osteopenia e sarcopenia, pelo que seria importante os idosos adoptarem uma dieta com uma carga ácida não apenas neutra mas até alcalina e que, em simultâneo, apresente carga glicémica reduzida e forneça quantidades adequadas de fibras, micronutrientes, ácidos gordos essenciais, com rácio ómega 6:ómega 3 entre 1:1 e 4:1, e aporte adequado de proteínas, que para um idoso sem problemas renais poderá ser superior 1 gr/kg de peso corporal.
Tendo em vista atingir os requisitos nutricionais acima indicados, é então recomendada a adopção de uma dieta paleolítica, em tudo similar à dos caçadores do Pleistoceno, ou seja: rica em peixes, frutas, vegetais, raízes, oleaginosas e sementes, suplementada com ovos e carne de animais alimentados com vegetais, e não cereais.
Pode ler este artigo do investigador Pedro Bastos, sobre a carga ácida e implicações na oesteoporose e sarcopenia, na sua versão integral, clicando aqui.
(*) - Pedro Bastos é membro da New York Academy of Sciences, da International Society for the Study of Fatty Acids and Lipids e da International Society of Sports Nutrition, e está actualmente a terminar o seu mestrado em Nutrição e Dietética através da Fundación Universitaria Iberoamericana (Espanha), com uma tese intitulada "O papel do Leite e seus Derivados na Saúde Humana".
Possui pós-graduação em Exercício e Saúde pela ESDRM (Escola Superior de Desporto de Rio Maior, Portugal), onde estudou o papel do exercício em pacientes transplantados e também obteve certificação como Personal Trainer. Está igualmente certificado como Instrutor de Musculação e Cardiofitness pelo CEF (Centro de Estudos Fitness) e pelo CEFAD (Centro de Estudos e Formação de Actividades Desportivas), duas escolas portuguesas de fitness.
Entre 2001 e 2004 trabalhou como Instrutor de Musculação e Cardiofitness, bem como Treinador Pessoal, no Health Clube Squash Soleil, em Lisboa.
Desde 2005 contribui regularmente com diversas publicações de saúde e fitness portuguesas, e dá palestras em convenções nacionais e internacionais, simpósios e conferências, acerca de tópicos relacionados a nutrição, saúde e performance. A sua linha de investigação mais recente centra-se no leite e seus derivados, tendo realizado apresentações neste tópico no 1º Congresso Ibérico Anual sobre Medicina Anti-Envelhecimento e Tecnologias Biomédicas, que decorreu no Estoril, Portugal, em Maio de 2008, e no Congresso Internacional de Nutrição Clínica Funcional, em São Paulo, no Brasil, em Julho de 2007.
Actualmente é consultor em ciências da nutrição, para algumas empresas e clínicas médicas em Portugal e no Brasil, sendo ainda membro do conselho editorial do jornal de nutrição técnico brasileiro Nutrição, Saúde e Performance, editado pela VP Consultoria Nutricional.