11 de Outubro, 2008
Heart Attack Grill Diet propõe batatas fritas em banha de porco
Autor: O Primitivo. Categoria: Civilização| Dieta
A dieta ideal para um ataque cardíaco garantido? O Heart Attack Grill Diet Center não faz por menos e assume frontalmente o carácter pouco saudável do seu menu, com o seguinte aviso à porta de entrada: "warning: our great tasting burgers may be hazardous to your health". O seu conceito baseia-se numa inteligente e arrojada estratégia de marketing, traduzida numa paródia "hospitalar" em que "enfermeiras" servem aos seus "pacientes" double, triple e até quadruple "bypass" burgers com "high caffeine colas".
E tudo isto deve ser rematado, de acordo com os criadores da "dieta", com o que consideram "a sobremesa ideal", um maço de cigarros sem filtro. A notícia do canal ABC abaixo elucida os potenciais interessados que as batatas são fritas em banha de porco, uma gordura supostamente saturada e nada saudável. Mas será mesmo assim? Vale a pena reflectir um pouco sobre este assunto.
De acordo com a Fundação Weston A. Price, a banha de porco natural (em inglês, "lard") é uma "gordura tradicional (…), saudável e natural", derivada do porco e essencialmente mono-insaturada. A banha pode ser uma importante fonte de vitamina D. Tradicionalmente, a banha de porco era (ou ainda é?) utilizada em produtos de pastelaria e na fritura de batatas, até à data em que a poderosa indústria alimentar dos óleos vegetais, onde se incluem margarinas e maioneses, chegou e tomou conta do negócio.
A hidrogenação é um processo químico utilizado industrialmente para obter a solidificação de gorduras naturalmente líquidas à temperatura ambiente. O problema é que o processo acontece em condições de alta temperatura e pressão, o que degrada as propriedades desses óleos, tornando-os nocivos à saúde. A banha de porco enlatada também é hidrogenada, mas não a natural, que é mais saudável se provir de um porco que não tenha sido criado à base de rações cereais e não tenha sido injectado com hormonas de crescimento e antiobióticos.
Hoje em dia a indústria tenta enraizar-nos a ideia, através da publicidade, de que se devem substituir as gorduras animais (ómega-3) por gorduras vegetais "saudáveis" (ómega-6), apesar de hidrogenadas e/ou trans, por exemplo através da substituição da tradicional manteiga pela industrializada margarina. Isto mesmo é afirmado categoricamente por inúmeras entidades oficiais, onde se destaca naturalmente a Organização Mundial de Saúde:
"An unhealthy diet is one of the major risk factors for a range of chronic diseases, including cardiovascular diseases, cancer, diabetes and other conditions linked to obesity. Specific recommendations for a healthy diet include: cutting down on salt, sugar and fat; eating more fruit, vegetables, nuts and grains; and substituting saturated animal fats for unsaturated vegetable oils".
Fonte: WHO.
Ou seja, a OMS/WHO também considera as gorduras saturadas como o "grande vilão" associado ao elevadíssimo risco de risco de morte cardiovascular que tanto aflige a nossa civilização. Este tipo de recomendações oficiais, em que se exaltam as designadas dietas "high-carb / low-fat" baseadas em cereais são, por paradoxal que possa parecer, potenciadoras das inúmeras doenças da civilização que hoje proliferam. Não é por acaso que temos hoje uma parcela de 7% da população diabética. Mas isto será tema para outros artigos e não deste.
Não tenha medo das gorduras alimentares. A banha de porco comercial não será certamente a coisa mais saudável do mundo, mas a natural, não-processada industrialmente, até pode ser adequada se consumida com moderação: é cerca de 40% saturada, 50% mono-insaturada e 10% poli-insaturada, sendo uma fonte rica em vitamina D. Eventualmente será até mais saudável do que alguns óleos vegetais modernos, na realidade prejudiciais ao coração devido ao seu alto contributo para o desequilíbrio entre o rácio de ómega-3 (animal, peixes gordos) e ómega-6 (óleos vegetais, cereais). Os centenários naturais de Okinawa, ilha japonesa onde se verifica a mais elevada taxa de longevidade no mundo, tradicionalmente utilizavam banha nas suas refeições.
Esta guerra comercial que agora tenta destronar as gorduras tradicionais, de origem animal, em detrimento das gorduras vegetais, alegadamente muito mais saudáveis, apesar das suas gorduras trans e de praticamente nunca terem feito parte da dieta humana em milhões de anos de percurso evolutivo, está bem patente em toda a publicidade e no marketing actual. Esteja por isso de sobreaviso ao que se vai dizendo e duvide sempre. Acima de tudo, estude, investigue e informe-se acerca do papel das gorduras na sua alimentação, enquadrando a questão sempre numa perspectiva evolucionária e histórica. A este respeito, vale a pena ler a explicação da Wikipedia acerca da banha de porco:
"During the 19th century, lard was used in a similar fashion as butter in North America and many European nations. Lard was also held at the same level of popularity as butter in the early 20th century and was widely used as a substitute for butter during World War II. As a readily available by-product of modern pork production, lard had been cheaper and more flavorful than most vegetable oils, and it was common in many people’s diet until the industrial revolution made vegetable oils more common and more affordable. Vegetable shortenings were developed in the early 1900s, which made it possible to use vegetable-based fats in baking and in other uses where solid fats were called for.
Toward the late 20th century, lard began to be regarded as less healthy than vegetable oils (such as olive and sunflower oil) because of its high saturated fatty acid and cholesterol content. However, despite its reputation, lard has less saturated fat, more unsaturated fat, and less cholesterol than an equal amount of butter by weight.[2] Unlike many margarines and vegetable shortenings, unhydrogenated lard contains no trans fat. Despite its similar chemical constituency and lower saturated fat content than butter, lard typically incites much consternation and disapproval from many people in the English-speaking world. This may stem from attitudes and the perceived nature of the source animal for lard, or the methods required to obtain the fat from its source. It is also based on the image of lard as a "poverty food".
Fonte: Wikipedia.