22 de Agosto, 2009
Consumir leite não-materno de outras espécies, um alimento altamente alergénico e insulinogénico, algo que nenhuma outra espécie do reino animal faz, excepto os humanos, será um sinal de “sabedoria” nutricional e um hábito protenciador de mais saúde? Hum…
Vídeo: Mussum tomando leite
Este estudo português, levado a cabo pela FCNAUP, alega que "o nível educacional é um factor-chave para uma melhor nutrição, o que é evidenciado por uma tendência para maior consumo de leite, sopa, vegetais, fruta e peixe".
Educational and economic determinants of food intake in Portuguese adults: a cross-sectional survey
Ora, tenho grandes dúvidas que assim seja. Para começar, não é correcto assumir que o leite seja um alimento necessariamente saudável, não existe base evolucionária ou biológica para afirmá-lo. Exactamente ao contrário, porque hoje existe inclusivamente evidência epidemiológica de que ao seu consumo estejam associadas doenças auto-imunes, como a diabetes tipo 1. Para além disto, não me parece líquido que maior escolaridade ou maior riqueza social possam conduzir a melhor saúde, pela simples razão de que os grupos mais "favorecidos" tenderão a ser eventualmente os mais sedentários, que não usam transportes públicos, que andam menos a pé, com maior défice de vitamina D, com maior aporte calórico, etc. Mais dinheiro, mais abundância, mais excessos, mais comida, numa só palavra, mais civilização! Parece que os mais pobres bebem menos leite, é uma constatação deste estudo, mas pelo menos o nosso amigo Mussum (que já morreu faz alguns anos, o grande Mussum d’Os Trapalhões) até gostava muito de poder beber leite, o bar é que não tinha leite para ele, então tinha mesmo de se contentar com uma cachassa. Seria interessante também incluir neste tipo de estudos epidemiológicos as prevalências de doenças da civilização, para de facto se verificar se os mais letrados, com a sua "sabedoria nutricional", são efectivamente os que possuem melhor saúde ou não.