08 de Novembro, 2008
Xarope de frutose de milho ainda pior que o tradicional açúcar
A mais recente entrevista no podcast de Jimmy Moore está bastante interessante. Fala sobre esta terrível dependência dos açúcares refinados e das farinhas/amidos a que todos estamos expostos, em tudo similar às dependências de outras drogas, e que por isso, na opinião de Joan Ifland, autora de "Sugars and Flours: How They Make Us Crazy, Sick, and Fat and What to Do about It", deveria ser alvo de protocolos específicos de reabilitação. Pode ouvir essa entrevista aqui (ligue o som): Eliminating Sugars And Flours With Joan Ifland (Episode 194).
Um dos pontos interessantes da conversa é sobre como a indústria alimentar continua a tentar manter-nos debaixo de uma permanente "tempestade insulínica", aprisionados a essa doçura da civilização que é o açúcar, nas suas várias formas, com as consequências que já se conhecem. Apesar das evidências, a Sugar Association continua delirante, defendendo a indústria e até alegadas "propriedades curativas" do açúcar (aliás até há que concordar pois a mortalidade pelo açúcar, seja por razões diabéticas ou cardíacas, não deixa de ser uma espécie de cura, pois claro).
Vai daí e começaram a apostar no xarope de frutose de milho (em inglês "high-fructose corn syrup"), mais conhecido na Europa por isoglucose, altamente apetecível pela indústria alimentar por razões económicas e produtivas, tornando-o no adoçante actualmente mais utilizado em todo o mundo, tendo já destronado o secular açúcar de cana/beterraba (sim, aquele que durante tanto tempo serviu de pretexto à escravatura).
Parar obter uma maior implantação do produto e ganhar ainda mais milhões, a Corn Refiners Asssociation tenta nos EUA, por via da publicidade enganosa, fazer a sua lavagem cerebral com anúncios como o que pode ver acima, jogando na ignorância do consumidor, ou com campanhas do tipo The Truth About HFCS ou SweetSurprise, em que afirma incorrectamente que este xarope é igual ao açúcar simples.
Mas a verdade da ciência é inescapável: o xarope de frutose de milho (milho transgénico?) é quimicamente diferente do vulgar açúcar refinado (sucrose), não é a mesma coisa. O HFCS é um produto altamente processado, uma falsa frutose (moléculas de glucose e frutose desligadas, compostos estes designados por "carbonyls"), que consegue ser ainda pior para a saúde do que o açúcar de mesa (designado sacarose ou sucrose, que são moléculas ligadas de glucose e frutose). São portanto moléculas quimicamente distintas e dificilmente comparáveis, conforme explica esta passagem da Wikipedia:
Cane and beet sugar
Cane sugar and Beet sugar are both relatively pure sucrose. While the glucose and fructose which are the two components of HFCS are monosaccharides, sucrose is a disaccharide composed of glucose and fructose linked together with a relatively weak glycosidic bond. A molecule of sucrose (with a chemical formula of C12H22O11) can be broken down into a molecule of glucose (C6H12O6) plus a molecule of fructose (also C6H12O6 — an isomer of glucose) in a weakly acidic environment. Sucrose is broken down during digestion into fructose and glucose through hydrolysis by the enzyme sucrase, by which the body regulates the rate of sucrose breakdown. Without this regulation mechanism, the body has less control over the rate of sugar absorption into the bloodstream.
The fact that sucrose is composed of glucose and fructose units chemically bonded complicates the comparison between cane sugar and HFCS. Sucrose, glucose and fructose are unique, distinct molecules. Sucrose is broken down into its constituent monosaccharides—namely, fructose and glucose—in weakly acidic environments by a process called inversion. This same process occurs in the stomach and in the small intestine during the digestion of sucrose into fructose and glucose. People with sucrase deficiency cannot digest (break down) sucrose and thus exhibit sucrose intolerance.
Both HFCS and sucrose have approximately 4 kcal per gram of solid if the HFCS is dried; HFCS has approximately 3 kcal per gram in its liquid form.[8]
Honey
Honey is a mixture of different types of sugars, water, and small amounts of other compounds. Honey typically has a fructose/glucose ratio similar to HFCS 55, as well as containing some sucrose and other sugars. Honey, HFCS and sucrose have the same number of calories, having approximately 4 kcal per gram of solid; honey and HFCS both have about 3 kcal per gram in liquid form.[8]
Fonte: Wikipedia.
Interessa notar aqui que a frutose, seja a da fruta ou esta falsificada, não é processada pelo corpo humano da mesma maneira que o açúcar comum (sucrose), razão pela qual também não é boa ideia comer demasiada fruta ou mesmo beber sumos de frutas, pois promovem resistência à leptina e acúmulo de tecido adiposo. Ao contrário de seguir os percursos metabólicos normais do açúcar refinado (fígado e músculos), que implicam uma série de respostas hormonais, relacionadas com a insulina e a leptina e ajudam a regular a ingestão alimentar, este "xarope" não segue este caminho (a frutose só é processada no fígado) pelo que os mecanismos de saciedade ficam comprometidos. Por causa disto há já estudos que defendem que o HCFS é o responsável pela actual epidemia mundial de obesidade.
Consumption of high-fructose corn syrup in beverages may play a role in the epidemic of obesity
George A Bray, Samara Joy Nielsen and Barry M PopkinFrom the Pennington Biomedical Research Center, Louisiana State University, Baton Rouge, LA (GAB), and the Department of Nutrition, University of North Carolina, Chapel Hill (SJN and BMP).
Obesity is a major epidemic, but its causes are still unclear. In this article, we investigate the relation between the intake of high-fructose corn syrup (HFCS) and the development of obesity. We analyzed food consumption patterns by using US Department of Agriculture food consumption tables from 1967 to 2000. The consumption of HFCS increased > 1000% between 1970 and 1990, far exceeding the changes in intake of any other food or food group. HFCS now represents > 40% of caloric sweeteners added to foods and beverages and is the sole caloric sweetener in soft drinks in the United States. Our most conservative estimate of the consumption of HFCS indicates a daily average of 132 kcal for all Americans aged >= 2 y, and the top 20% of consumers of caloric sweeteners ingest 316 kcal from HFCS/d. The increased use of HFCS in the United States mirrors the rapid increase in obesity. The digestion, absorption, and metabolism of fructose differ from those of glucose. Hepatic metabolism of fructose favors de novo lipogenesis. In addition, unlike glucose, fructose does not stimulate insulin secretion or enhance leptin production. Because insulin and leptin act as key afferent signals in the regulation of food intake and body weight, this suggests that dietary fructose may contribute to increased energy intake and weight gain. Furthermore, calorically sweetened beverages may enhance caloric overconsumption. Thus, the increase in consumption of HFCS has a temporal relation to the epidemic of obesity, and the overconsumption of HFCS in calorically sweetened beverages may play a role in the epidemic of obesity.
Que implicações possuirá para o perfil ipídico? Este frutose falsa, tal como a verdadeira, a da fruta, é processada unicamente pelo fígado, o que conduz a uma grande elevação dos triglicéridos, que por sua vez implicam risco cardíaco acrescido e promovem a acumulação de tecido adiposo. Isto para já não falar no desequiíbrio mineral que poderá induzir, abaixamentos dos níveis de crómio e aumento do risco diabético. Isto ocorre provavelmente porque os seus açúcares não são processados e armazenados sob a forma de glicogénio muscular como, por exemplo, os açúcares dos comuns cereais.
"Faz já parte do senso comum que a ingestão de açucares deve ser moderada. Aliado a dietas, modas ou maior conhecimento da população, o mercado respondeu com a oferta de "adoçantes". Porém, estudos recentes vêm alertar para um "adoçante", presente em vários produtos: o xarope de frutose de milho. Os resultados destas investigações demonstram que este, ao contrário do vulgar açucar, não é utilizado pelos músculos como fonte de energia. A frutose de milho entra directamente no fígado, conduzindo a um aumento dos triglicerídeos. Além disso a frutose de milho - como todos os açucares de cereais - aumenta a insulinoresistência. A resistencia à insulina é o factor comum e agravador da diabetes tipo II, da obesidade e incremento dos factores de envelhecimento. Antes de comprar, leia a informação nutricional: se a composição enumerar frutose de milho, evite, pela sua saúde. "
Fonte: The Miami Mediterranean Diet - Expanded Edition by Michael Ozner, 2008 .
Mas exactamente em que tipo de alimentos o HFCS está presente? Por incrível que pareça, em quase tudo: desde os "saudáveis" cereais de pequeno-amoço, refrigerantes, massas e até em algum pão, iogurtes, molhos de saladas, chocolates, gelados, bolachas, etc. Veja aqui alguns exemplos comentados. Num próximo artigo farei uma análise dos rótulos de algumas caixas de cereais para exemplificar como detectar estes adoçantes "escondidos".
Em conclusão, o xarope de frutose de milho é um produto artificial, com vários perigos para a saúde pública, mais uma boa razão para você evitar alimentos processados e passar a preferir carbohidratos saudáveis.