Canibais e Reis

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09 de Agosto, 2009

“A verdade Amarga sobre o Açúcar”, ou como a frutose (da fruta “saudável”, de HFCS, do açúcar de mesa, etc.) em excesso preenche requisitos metabólicos de toxicidade muito similares aos do etanol (cerveja não-saudável), podendo por isso ser considerada uma toxina

Autor: O Primitivo. Categoria: Saúde

Vídeo: Sugar: The Bitter Truth.

 

Esta palestra do Dr. Robert Lustig, professor de Pediatria no Dept. de Endocrinologia da Univ. da Califórnia, sobre a ligação do actual hiperconsumo de de frutose (açúcar da fruta e também o xarope de frutose de milho / HFCS) à obesidade, síndroma metabólica, hiperuricemia, hipertensão, etc. é absolutamente obrigatória. Dura 1h30m mas vale a pena, é riquíssima de informação bastante rigorosa. A apresentação do Dr. Lustig começa por abordar as questões do balanço energético, do hiperconsumo de frutose, seja por via da sucrose (o usual açúcar de mesa, que é metade glucose, metade  frutose) ou através do infame HFCS (o adoçante mais consumido em todo o mundo, presente em tudo o que são Coca-Colas, Gatorades, bebidas da moda, cereais "saudáveis" de pacote, todas as junk-foods da civilização, etc.), sobre o qual eu já falei aqui

Na primeira meia hora, esta apresentação move-se pelos terrenos pantanosos da estatística e da epidemiologia, o que me fez prever estar iminente atribuir-se as causas de todas as doenças da civilização ao actual hiperconsumo de frutose. É sem dúvida um factor importante para as epidemias de diabetes e obesidade infantil, mas não explicam tudo. Felizmente estava enganado, porque a esta parte segue-se uma extraordinária lição de metabolismo, em que o Dr. Lustig explica que a frutose preenche quase todos os requisitos para ser considerada um produto tóxico, tal como o etanol (cerveja, vai uma "mini"?). Isto é assim porque a frutose não é metabolizada da mesma forma que a glucose, pois esta última suscita uma resposta insulínica que por sua vez interage com as hormonas de saciedade, e para além disto é armazenada sob a forma de glicogénio, que é um produto não-tóxico para os músculos e fígado.

Mas a frutose não! A frutose forma 7 vezes mais AGE-Advanced Glycation End-Products que a glucose, não suprime a hormona grelina (que sinaliza que o estômago que está vazio e precisa de comida), também não estimula a secreção de insulina (ou leptina), estimulando antes a formação de VLDL (lipoproteínas altamente aterogénicas), a "de novo lipogenesis" (síntese de gordura corporal a partir de não-gordura), a formação de triglicéridos (TG), a formação de ácido úrico e até o aumento da tensão arterial, estes 3 últimos factores, por si só, marcadores independentes de doença cardiovascular. Ou seja, tudo características da síndroma metabólica, uma constelação de sintomas pouco recomendáveis que também o consumo excessivo de etanol (álcool) produz, é quase igual.

Por estas razões, lá para o final da apresentação, o Dr. Lustig compara o consumo de uma Coca-Cola ao de uma cerveja Budwiser, referindo que as consequências metabólicas do consumo de qualquer um destes hidratos de carbono (frutose e álcool) são praticamente idênticas, simplesmente traduzem-se numa mesma carga hepática que terá de ser metabolizada através do fígado, muita da qual terminará armazenada no corpo em gordura. O Doutor diz em tom exclamativo que "Seria impensável você dar uma cerveja ao seu filho, mas você não hesita em dar-lhe uma Coca-Cola"! No final da apresentação é ainda feita uma importante referência à importância da actividade física, sento enfatizada  a melhoria que porporciona da sensibilidade à insulina, bem como outras vantagens. Veja só que, nesta apresentação, até se fala de uma tal de Dieta Paleolítica! Esta apresentação é vasta, muito vasta, aborda áreas científicas muito diferentes, e este doutor demonstra conhecimentos avançados em todas elas.

Conforme referi, trata-se de uma apresentação longa mas, volto a dizer, pelo menos para quem se interessa por estas coisas, é merecedora de visonamento atento e integral. Para terminar, refiro somente que quem nos proporciona estas palestras, de grande qualidade científica, é a UCTV, que também tem duas apresentações novas sobre Vitamina D e Cancro. Ainda sobre a questão do hiperconsumo de fruta não ser uma coisa lá muito recomendável, é também obrigatório ler tudo o que o Dr. William Davis, médico cardiologista, tem escrito sobre este tema. Aproveito para transcrever aqui o seu último artigo sobre este tema, em que ele explica que frutose excessiva constitui um factor de risco cardiovascular.

 

Fructose is a coronary risk factor

As discussed in a previous Heart Scan Blog post, Say Goodbye to Fructose, a carefully-conducted University of California study demonstrated that, compared to glucose, fructose induces:

1) Four-fold greater intra-abdominal fat accumulation
2) 13.9% increase in LDL cholesterol, doubled Apoprotein B
3) 44.9% increase in small LDL, 3-fold more than glucose
4) Increased postprandial triglycerides 99.2%.

Other studies have shown that fructose:

--Increases uric acid--No longer is red meat the cause for increased uric acid; fructose has taken its place. Uric acid may act as an independent coronary risk factor and increases high blood pressure and kidney disease.
--Induces insulin resistance, the situation that creates diabetes
--Increases glycation (fructose linked to proteins) and protein cross-linking, processes that underlie atherosclerosis, liver disease, and cataracts.

Make no mistake: Fructose is a powerful coronary risk factor.
There is no doubt whatsoever that a diet rich in fructose from fruit drinks, honey, raisins and other dried fruit like cranberries, sucrose (table sugar), and high-fructose corn syrup is a high-risk path to heart disease.

Also note that many foods labeled "heart healthy" because of low-fat, low saturated fat, addition of sterol esters, or fiber, also contain fructose sources, especially high-fructose corn syrup.

Fonte: The Heart Scan Blog.

 

Ligações relacionadas:

Xarope de frutose de milho ainda pior que o tradicional açúcar (Canibais e Reis)
Documentário sobre indústria florescente do milho e xarope de frutose de milho, uma falsa frutose (Canibais e Reis)

High-fructose corn syrup W(ikipedia)
Fructolysis (Wikipedia)
Lipogenesis (Wikipedia)

Dr. William Davis: fructose
How to Give a Rat Metabolic Syndrome
Fructose vs. Glucose Showdown
US Fructose Consumption Trends
The Fructose Index is the New Glycemic Index

Consuming fructose-sweetened, not glucose-sweetened, beverages increases visceral adiposity and lipids and decreases insulin sensitivity in overweight/obese humans



4 comentários a este artigo.

1 | Filipa Vicente

09 de Agosto, 2009, 6:12

Avatar

Parabéns e obrigada pela ideia de pôr aqui a palestra, foi de facto muito interessante.

O consumo excessivo de frutose é um dos temas de maior interesse no momento, e felizmente não são só os nutricionistas a interessar-se.

2 | José Carlos Jorge

09 de Agosto, 2009, 18:24

Avatar

Olá:

Este post suscita-me uma dúvida

Quanta fruta é consumo excessivo de fruta?

Estamos a falar de fruta fruta ou de alimentos adoçados com HFCS

Sumos de fruta mesmo naturais?

Um abraço

3 | O Primitivo

09 de Agosto, 2009, 18:36

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Caro José, não sei precisar onde li, penso que num paper, que dietas com mais de 20% da energia, ou mais de 1000 kcal/dia, em frutose fazem aumentar a resistência à insulina em humanos hiperinsulinémicos. Sugiro-lhe leitura deste paper sobre este assunto: http://www.nutritionandmetabolism.com/content/pdf/1743-7075-2-5.pdf A frutose é o açúcar natural dos frutos, também está no xarope de frutose de milho (% variável de frutose, varia de 10 a 50%), está no açúcar de mesa/sacarose (que é 1/2 glucose e 1/2 frutose), etc. Não é boa ideia beber 1 litro de sumo de laranja “saudável” todos os dias.

4 | José Carlos Jorge

09 de Agosto, 2009, 6:03

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O meu comentári anterior foi colocado antes de ver o filme.

Agora já o vi, todo seguido até á uma da manhã. O que vale é que hoje estou de férias

De facto a comparação entre uma lata de coca-cola e uma de cerveja é impressionante.

Pelo que vi a fruta vem com o “veneno” mas trás o “antídoto” ou seja, além da quantidade de frutose ser pequena, a fruta vem acompanhada de fibras solúveis, vitaminas, sais minerais, etc…
num sumo natural ficamos sem fibra e nos aditivos tipo HFCS só fica mesmo o tóxico.

Acho que dá para manter as minhas 4 ou 5 peças de fruta diárias.

De qualquer modo, ainda vou ler o paper que me recomenda.

Um abraço

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