11 de Janeiro, 2009
Chispes e Couratos propõe-nos pirâmide alimentar hiperproteica e cetogénica, em alternativa à pirâmide oficial
Foto: Pirâmide Alimentar Chispes e Couratos (ampliar).
Fonte: Blogue Chispes e Couratos.
O mito das dietas hiperproteicas
O blogue Chispes e Couratos é um "espaço de partilha de loucuras e paixões gastronómicas" que, sem grandes preocupações científicas, se dedica a divulgar os prazeres da degustação das comidas tradicionais. Tudo isto em estreita consonância etnográfica com a cultura gastronómica portuguesa. Em complemento das suas inúmeras crónicas, recheadas de bom humor e ironia q.b., presenteia-nos com uma pirâmide alimentar "personalizada", capaz de fazer desmaiar as autoridades alimentares modernas mais sensíveis. Esta não será propriamente uma dieta de elevado risco, como a que nos propõe o Heart Atack Grill, mas será porventura possível que as suas propriedades hiperproteica e cetogénica resultem, em alguma medida, mais saudáveis que as da roda alimentar oficial? Vejamos mais adiante.
O que mais salta à vista nesta nova proposta de pirâmide alimentar é, sem dúvida, a sua vertente hiperproteica de origem animal, pelo menos muito mais proteica do que as recomendações oficiais, que devem rondar os 10-20% de energia de proteínas preferencialmente vegetais. Não sabemos ao certo qual a recomendação proteica oficial do Chispes e Couratos, expressa em percentagem ou em gr/kg de peso/dia, porque a sua pirâmide ainda não vem acompanhada do respectivo guia nutricional, mas é de presumir que este aporte se situe na gama alta, provavelmente pelos 35%. Portanto, numa faixa ainda dentro da ingestão proteica da maioria dos povos primitivos saudáveis conhecidos, a qual se deve ter situado no intervalo 19-35% e com uma relação de nutrientes animal:vegetal próxima de 65:35%. Verificando-se este quesito hipovegetariano, pode-se portanto concluir que esta pirâmide parte de uma base nutricional mais racional que a da OMS, que recomenda "uma dieta nutritiva baseada numa variedade de alimentos principalmente vegetais, ao invés de animais", portanto desfasada das necessidades humanas tradicionais.
The Myth of the high-protein diet
"if you break historical hunter-gatherer cultures into 10 groups based on their reliance on animal foods, the most numerous group (46 out of 229) obtained 85- 100% of their food from animal sources. In other words, approximately 20% of historical hunter-gatherers were carnivorous or nearly so. If the human protein ceiling is 35% of calories, that means roughly one fifth of hunter-gatherers ate 65% or more of their calories as fat. It also means carnivory and high-fat diets are not just anomalies, they are part of the human ecological niche. Zero out of 229 groups obtained less than 16% of calories from animal foods. Vegetarianism is not part of our niche."
Fonte: The Myth of the High-Protein Diet, WHS.
Aqui impõe-se uma breve explicação: com a pirâmide do Chispes e Couratos não é previsível, ou sequer possível, uma ingestão superior a 35% de energia por via de proteínas animais. Porquê? Porque tal é, ao que parece, fisiologicamente impossível. O conceito de "dieta muito rica em proteínas e destruidora dos rins" é, pelo menos no caso de pessoas saudáveis, provavelmente um mito. O nosso fígado tem uma capacidade limitada para processar a ureia resultante da degradação das proteínas pelo que, acima de certos limites (aprox. 1/3 da energia), o indivíduo começa a sentir-se mal e não consegue comer mais carne/peixe, o que se designa por "rabbit starvation". Analisando as coisas por outro prisma, a vantagem nesta dieta, se for complementada com gorduras saudáveis mono-insaturadas e saturadas (quase nada de poliinsaturadas), é a de que não faltam carnes, ficando assegurado todo o potencial nutricional mágico das proteínas animais, de superior valor biológico.
Dieta cetogénica: hiperlipídica e terapêutica?
A pirâmide do Chispes e Couratos é também notoriamente pobre em hidratos de carbono, nela não se vislumbrando qualquer "cereal saudável" ou mesmo vegetal, ou seja, trata-se de uma dieta cetogénica extrema, absolutamente livre, por exemplo, dos tradicionais bolos-rei (ricos em farinha de trigo e por vezes, veja-se a insensatez, até margarina) e de cereais de pequeno-almoço, com todas as vantagens cardioprotectoras e de índole metabólica associadas a esta escolha primitivista: normalização dos níveis glicémicos e insulínicos, diminuição dos triglicéridos, abaixamento de HbA1C, aumento da fracção HDL e redução das LDL, menor inflamação (aferida pela proteína C-reactiva), etc.
E o resultado? Necessariamente uma protecção acrescida contra as doenças da civilização, designadamente a obesidade, pré-diabetes e diabetes, doenças cardiovasculares, certos tipos de cancro, complicações diabéticas, etc. Diversos estudos concluem e a experiência pessoal facilmente o confirma, que dietas com características hiperproteicas cetogénicas (low-carb, high-fat, adequate protein) reduzem o apetite e diminuem a ingestão total significativamente mais que dietas com maior teor em HC, como a dieta oficial da "roda dos alimentos", que recomenda 60% da energia por via de amidos/açúcares:
Background: Altering the macronutrient composition of the diet influences hunger and satiety. Studies have compared high- and low-protein diets, but there are few data on carbohydrate content and ketosis on motivation to eat and ad libitum intake.
Objective: We aimed to compare the hunger, appetite, and weight-loss responses to a high-protein, low-carbohydrate [(LC) ketogenic] and those to a high-protein, medium-carbohydrate [(MC) nonketogenic] diet in obese men feeding ad libitum.
Design: Seventeen obese men were studied in a residential trial; food was provided daily. Subjects were offered 2 high-protein (30% of energy) ad libitum diets, each for a 4-wk period—an LC (4% carbohydrate) ketogenic diet and an MC (35% carbohydrate) diet—randomized in a crossover design. Body weight was measured daily, and ketosis was monitored by analysis of plasma and urine samples. Hunger was assessed by using a computerized visual analogue system.
Results: Ad libitum energy intakes were lower with the LC diet than with the MC diet [P = 0.02; SE of the difference (SED): 0.27] at 7.25 and 7.95 MJ/d, respectively. Over the 4-wk period, hunger was significantly lower (P = 0.014; SED: 1.76) and weight loss was significantly greater (P = 0.006; SED: 0.62) with the LC diet (6.34 kg) than with the MC diet (4.35 kg). The LC diet induced ketosis with mean 3-hydroxybutyrate concentrations of 1.52 mmol/L in plasma (P = 0.036 from baseline; SED: 0.62) and 2.99 mmol/L in urine (P
Conclusion: In the short term, high-protein, low-carbohydrate ketogenic diets reduce hunger and lower food intake significantly more than do high-protein, medium-carbohydrate nonketogenic diets.
Fonte: American Journal of Clinical Nutrition.
Esta reduzida quantidade em HC (ou haverá algumas couves e batatas por trás das carnes e não estamos a ver bem?) necessariamente implica alta ingestão lipídica, pois como sabemos não é possível elevar a ingestão proteica para além de certo limite. Contrariamente ao que a maioria das autoridades de saúde e alguma medicina menos informada pensa, isto não é necessariamente prejudicial à saúde. Em determinadas condições clínicas ou se calhar até no caso geral, ainda que por períodos limitados, poderá até considerar-se vantajosa para a saúde. Com efeito, há inúmeras aplicações terapêuticas das dietas cetogénicas, por exemplo no tratamento da epilepsia em crianças, da obesidade, doenças neurodegenerativas, tumores cerebrais, cancro, autismo, diabetes, Alzeimer e Parkinson, etc. Apenas um à parte: você já alguma vez ouviu falar de aplicações terapêuticas de dietas ricas em HC, como são bom exemplo as dietas oficiais, baseadas em "cereais saudáveis", ou seja, amidos/açúcares? Hum, é porque talvez não sejam assim tão saudáveis quanto isso, pois não? Se calhar esses 60% de energia em HC até serão demais, não? Mas continuando.
Vídeo: "Eskimo Hunters 1949", The Travel Film Archive. Nota: aos 5 minutos, hábito dos Inuit de mergulhar o peixe em gordura de foca.
Haverá algum povo na terra a comer assim, para além dos ilustres Chispes e Couratos? Sim, por exemplo, os povos de regiões frias ou polares, como os inuit (esquimós), que vivem meses a fio com ingestões ínfimas de HC e elevados aportes proteicos e lipídicos, mais precisamente a comer peixe cru com gordura de foca, não resultando disso qualquer prejuízo aparente para as suas saúdes ou risco cardiovascular acrescido. Até bem pelo contrário, o elevado consumo de óleos ómega-3, em que as gorduras de peixes são muito ricas, ajuda a restabelecer equilíbrio ómega-3:ómega-6 para níveis não-inflamatórios, coisa quase impossível na sociedade moderna ocidental, em que impera uma excessiva ingestão de cereais e óleos vegetais "saudáveis", ou seja, de ácido linoleico potenciador de maior oxidação, hipotiroidismo, etc.
The Myth of the High-Protein Diet
"In the early 1900s, anthropologist and explorer Vilhjalmur Stefansson lived for several years among completely isolated Canadian Inuit (Eskimo) who had never seen a white person before. They were literally a stone-age culture, completely uninfluenced by the modern world. They are representative of how some of our paleolithic ancestors would have lived. Here’s Stefansson, quoted from My Life With the Eskimo (1913):
In certain places and in certain years, rabbits are an important article of diet, but even when there is an abundance of this animal, the Indians consider themselves starving if they get nothing else, - and fairly enough, as my own party can testify, for any one who is compelled in winter to live for a period of several weeks on lean meat will actually starve, in this sense: that there are lacking from his diet certain necessary elements, notably fat, and it makes no difference how much he eats, he will be hungry at the end of each meal, and eventually he will lose strength or become actually ill. The Eskimo who have provided themselves in summer with bags of seal oil can carry them into a rabbit country and can live on rabbits satisfactorily for months."
Fonte: The Myth of the High-Protein Diet, WHS.
Vìdeo: Almost Live - Lard Council. Comedy Channel
(Nota: Lard = banha de porco).
Com gorduras saudáveis, proteínas deslizam melhor
E quanto a lípidos, o que recomenda esta pirâmide? Esta é uma resposta que fica por responder talvez porque, eventualmente, ainda esteja a ser desenvolvida para ser implementada na próxima versão da pirâmide do Chispes e Couratos. Afinal, nenhuma pirâmide é perfeita e até há algumas pirâmides e rodas oficiais, com várias décadas de desenvolvimento e muitos milhões de dólares gastos em "investigação", que até ao momento não mais conseguiram que produzir uma dieta pró-inflamatória e insulinogénica, portanto altamente potenciadora das inúmeras doenças da civilização que grassam na nossa sociedade e que servem de sustento a indústrias de interesses. Disto é bom (ou péssimo?) exemplo o Guia de Nutrição CINDI da Organização Mundial de Saúde, um dos mais pobres documentos sobre nutrição alguma vez produzidos por uma entidade oficial com responsabilidades na saúde de milhões de pessoas. A título de exemplo, veja-se o mais completo disparate, não há outra adjectivação possível, à luz do conhecimento actual, que é a recomendação "coma pão, cereais, massas, arroz ou batatas várias vezes ao dia":
CINDI dietary guide, OMS (2000)
2. Eat bread, grains, pasta, rice or potatoes several times per day.
Bread, grains, pasta, rice or potatoes should form the foundation of all meals, as shown in the base of the food pyramid. WHO recommends (WHO 1990) that more than half of daily energy come from this food group because it is low in fat and rich in both nutrients and non-nutrients. In addition to providing energy, the foods in this group contribute significantly to the intake of protein, fibre, minerals (potassium, calcium and magnesium) and vitamins (vitamin C, folate, B6, carotenoids). The nutritional benefits of these foods, especially their role in disease prevention, should be publicized.
Unfortunately many people mistakenly believe that bread and potatoes are more "fattening" than other foods. The energy content of starch is actually much lower than that of either fat or alcohol. Starch provides only 16 kJ energy per gram; the corresponding figures for fat and alcohol are 38 and 29, respectively. An energy-dense diet (one containing a lot of fat, refined sugar and alcohol, combined with few micronutrients and non-nutrients) promotes overconsumption of food, leading eventually to obesity, possibly combined with nutrient deficiencies.
As do grains and potatoes, all types of bread contain different types of dietary fibre (especially whole grain varieties, but even white bread contributes significant amounts of fibre, particularly a fibre-related substance called resistant starch). In addition, different fibre types are present in legumes, beans, vegetables and fruit (see step 3). Eating a variety of fibre-containing foods is important for preventing constipation, diverticular disease and haemorrhoids.
Unfortunately, as discussed earlier, the consumption level of this food group started to fall after the Second World War. Although there are many reasons for this trend, the fact that some health professionals tend to undervalue the importance of eating plenty bread, grains, pasta, rice and potatoes and instead overemphasise the importance of animal protein, does not improve the situation. Health professionals have an key role in correcting this perception and reversing the decline in potato and bread consumption. Eating large amounts of cereals and bread (preferably whole-grain), and potatoes needs to be promoted as the foundation of a healthy diet.
Fonte: CINDI Dietary Guide (págs. 8-9), OMS.
Mas voltando aos lípidos. É de esperar que a pirâmide dos Chispes venha a adoptar gorduras saudáveis e tradicionais na confecção dos seus pratos, tais como o tradicional azeite, tão típico na dieta mediterrânica, e também outras gorduras saudáveis, como por exemplo a banha de porco (natural, não-hidrogenada) que é uma gordura tradicional melhor que a "saudável" margarina. A propósito, você sabia que a banha de porco é a gordura de preferência do centenário povo de Okinawa? Este facto é no entanto pouco referido pelos nutricionistas modernos porque, naturalmente, não encaixa no limitado conceito high-carb, low-fat que, ao arrepio da história humana e em favor do lóbie dos cereais e das gorduras vegetais, decidiu condenar as gorduras saturadas e promover as poliinsaturadas ricas em ácido linoleico. Fica aqui este "apelo lipídico" à comissão nutricional do Chispes e Couratos para que desenvolva esta vertente na sua próxima pirâmide, para a tornar mais apta ao consumo humano. Azeite extra-virgem, banha de porco, manteiga, óleos de linhaça e de coco, isto sim são gorduras saudáveis!
Colesterol alimentar: saudável e nutritivo?
Para termina a questão do colesterol, presente em dose elevada em iguarias como o fígado, vísceras animais e nos saudáveis ovos, alimentos tradicionais que inúmeros povos primitivos sempre consumiram com grandes proveitos para as suas saúdes, mas assunto que modernamente tem preocupado muita gente, embora sem grande razão para isso. Aparentemente este é um tema que também perturba um dos elementos do Chispes, conforme se pode verificar através desta reflexão quase metafísica:
A crise do colesterol
"Os mais recentes dados da Organização Mundial da Saúde, divulgados por uma sua subsidiária – mais concretamente um Laboratório de Análises Clínicas da cidade de Braga –, sobre a minha pessoa são preocupantes. Contrariando a tendência geral destes últimos tempos – descidas dos índices bolsistas, do valor das acções, do preço do barril do petróleo, das taxas de juro, do Sporting na classificação da Liga de futebol, do saldo da minha conta bancária – o meu colesterol está em alta.
Não vale a pena perder tempo a encontrar culpados para esta crise (embora o Bush, o Sócrates e o Cavaco tenham sempre uma quota de responsabilidade), mas é uma verdade insofismável que a comida que melhor nos sabe é sempre aquela que mais mal nos faz. Porque raio é que o colesterol e os triglicerídios sobem com a carne, o marisco e o vinho em vez de serem afectados pela beringela, pela pescada cozida ou pelo tofu? Passava bem sem qualquer um destes!
Não preciso esperar pela opinião da minha consultora para a saúde (vulgo, médica de família) para saber que são necessárias uma série de medidas, algumas delas drásticas, para corrigir os valores do colesterol, que não se desejam altos por razões de saúde. O problema é que essas medidas são duras porque implicam o corte total ou parcial em sectores fundamentais como os da posta à barrosã, do bacalhau à Braga, da carne de porco à alentejana, do camarão, do vinho ou dos chispes e couratos. Já nem preciso de falar no que isso pode influir na estabilidade gastronómica nacional (que o JP já referiu encontrar-se em risco por razões de ordem económica). Fico-me pelas óbvias repercussões que estas medidas terão no meu bem-estar mental e na produtividade, com naturais reflexos sociais e económicos.
E aqui põe-se a questão fundamental: o que é mais importante preservar? O bem-estar físico ou o bem-estar mental? Deve dar-se prioridade à saúde ou ao prazer de comer? As opiniões dividem-se, uns defendem que a saúde é essencial para se viver, outros que não vale a pena viver se não se pode desfrutar do prazer da gastronomia e do álcool.
A minha escolha vai, sem hesitações, para a comida, mas a minha consultora para a saúde defenderá seguramente a outra opção. Espero que consigamos chegar a um acordo que agrade às duas partes…"
Fonte: A crise do colesterol, Chispes e Couratos.
As boas notícias são que, afinal, a teoria do colesterol entupidor de artérias deixa muito a desejar à ciência. Afinal, a hipótese lipídica da ateroesclerose nunca foi verdadeiramente validada, excepto pelos lobies vegetariano e margarineiro, até porque o colesterol alimentar pouco faz variar o sanguíneo e um colesterol (total) "alto" não implica necessariamente mais eventos cardíacos. Apesar de tudo e infelizmente, esta teoria tem vingado, por oposição à teoria baseada na oxidação das LDL, descoberta somente em 1979, porque é muito conveniente: só assim se consegue manter a indústria das estatinas a rolar. Mas as coisas estão a mudar e até o Jupiter veio admitir que a oxidação/inflamação é um factor mais determinante para o risco cardíaco do que propriamente a presença de certos níveis de colesterol.
Fonte: Vídeo educativo "Metabolism & Nutrition - Cholesterol and other Lipids in Your Blood: Chemistry, Control and Chaos" (UCTV).
Por mais que custe admitir aos "especialistas", o colesterol é na realidade um nutriente essencial à vida, interveniente em inúmeros processos metabólicos essenciais e não existe tal coisa como "bom" e "mau" colesterol. E no que respeita a lípidos em geral, o fígado acaba por ser uma fábrica capaz de produzir quase todos os que estão em falta e de eliminar os que não interessam. Por algum motivo é razoavelmente fraca a correlação directa entre o tipo de lípidos ingerido e o perfil lipídico do tecido adiposo (veja aqui o caso da população portuguesa), embora este último seja capaz de fornecer dados importantes acerca da dieta de cada indivíduo.
Para aprender sobre o colesterol, recomendam-se umas aulas de bioquímica de lípidos, a leitura do artigo de revisão Saturated fats: what dietary intake e depois uma visita ao website de Chris Masterjohn, um proeminente especialista nesta área, ligado à fundação WAPF e que nos explica o que sempre foi evidente para a ciência, mas que usualmente é sempre omitido: o colesterol é um nutriente essencial às formação das membranas celulares, à aprendizagem e à memória, à formação de sinapses no cérebro, à digestão e aos ácidos biliares, etc. Por alguma razão as estatinas causam perda de memória!
Para terminar este ponto, sugere-se ainda a leitura do texto "Cholesterol myths and truths" e a audição da palestra "Cholesterol - Viilain or Hero?", ambos do autor já acima citado.
Sugestões para melhoria da pirâmide
Se a ideia dos Chispes e Couratos não for manter a sua pirâmide/ dieta no contexto cetogénico, isto é, num estado fisiológico em que o organismo está a utilizar principalmente energia proteica e lipídica e em que o seu cérebro está a ser alimentado de glucose por neoglucogénese (síntese de glucose através das proteínas ingeridas ou, no caso de greve de fome, do tecido muscular), apesar de não se estarem a ingerir HC/glucose alguma, então não há necessidade de eliminar em absoluto os HC. Bastaria limitá-los a, digamos, 150 gr/dia. Esta ingestão traduz-se seguramente em mais de 500 gr/dia de matéria vegetal, isto é, numa muito razoável quantidade de couves e hortícolas variados, de preferência crus mas que nestes dias, de muito frio e até de neve pelas terras altas do norte, convém serem cozidos e fumegantes. Fica mais esta sugestão para o pessoal dos Chispes e Couratos.
But What About Ketosis?
"Since I’m going to use the term in just a second, I need to define what it means. When fatty acid burning is ramped up to high levels (as when carbohydrates are restricted), the body starts producing ketone bodies in the liver. As noted above, many tissues in the body can use ketones for fuel, basically they are an alternative energy source to glucose when it’s not available. When ketones build up in the bloodstream beyond a certain point, a condition called ketosis is said to develop. In contrast to the diabetic ketoacidosis (which occurs in poorly treated Type I diabetics), dietary ketosis is not dangerous and is an adaptation by the body to total starvation.
Many diets such as The Atkins Diet and other very low-carbohydrate diets are based around establishing ketosis for various reasons which are beyond the scope of this article. I only bring this up as most ketogenic diets set a carbohydrate intake level of roughly 30 grams per day (allowing some vegetables but little else) although I’ve never found support for that specific value.
I bring this up in the context of this article as many people start such diets with the specific goal of developing ketosis (again, for a variety of reasons). Since many books give the 30 g/day value for a ketogenic diet, folks get a little anxious about carb intakes that are higher than that.
However, strictly speaking, any diet with less than 100 g/day of carbohydrate will cause ketosis to develop to some degree (more ketones will be generated as carbs are lowered). I’d note that many ketogenic dieters use Ketostix to track ketosis, small sticks that measure urinary ketone levels. These are misleading for a number of reasons, not the least of which is that while ketosis (as defined by blood concentrations of ketones) may develop, urinary ketones don’t always show up, especially as carbs are raised to nearer the 100 g/day high end.
In any case, an intake of 15-50 grams per day of carbohydrate will still allow ketosis to develop and those ketogenic dieters attempting to ‘eat as few carbs as possible’ might want to consider that in the context of not only providing much needed food variety (at 50 g/day, even a small amount of fruit can often be fit in) but also in the context of the protein sparing issues I discussed above."
Fonte: How Many Carbohydrates Do You Need?, L. McDonald.
Foto: prato baseado na nova pirâmide alimentar.
Fonte: Chispes e Couratos.
Avaliação final
As rodas e as pirâmides alimentares, oficiais ou não-oficiais, valem o que valem e esta não é excepção à regra. Parece no entanto evidente que a pirâmide alimentar Chispes e Couratos, desde que sujeita a aperfeiçoamentos vários nas suas futuras versões, designadamente provida de maior teor lipídico (tragam o azeite e a banha de porco, rapazes!) e também a inclusão de vegetais e alguns frutos, poderá proporcionar uma dieta tão ou mais saudável aos seus adeptos do que praticamente qualquer uma das rodas ou pirâmides alimentares oficiais, que se baseiam em grupos alimentares escolhidos por lóbies económicos e não pela ciência ou tradição dos povos, como o dos "cereais saudáveis", que o genoma humano praticamente desconhece e para os quais não se encontra adaptado (sim, há boas razões para o nosso corpo não gostar de bolo-rei; a farinha de trigo é um alimento estranho à nossa genética).
Adicionalmente, a pirâmide dos Chispes, embora ainda inapropriada para utilização humana generalizada, pois poderá causar a fome dos coelhos devido às citadas insuficiências lipídicas, e outras deficiências devido ao teor quase nulo em HC, possui no entanto uma base de partida bastante credível, pois recomenda alimentos essencialmente de origem animal, em consonância com a tradição carnívora que sempre caracterizou os humanos ao longo de todo o seu percurso evolutivo, o qual remonta a mais de 2.5 milhões de anos e que foi interrompido somente recentemente, há cerca de 10.000 anos, com o advento da agricultura e tudo o que isso tem significado, a par com a sedentarização, para a degradação da saúde humana.
"There is increasing evidence to indicate that the type of diet recommended in the USDA’s food pyramid is discordant with the type of diet humans evolved with over eons of evolutionary experience. Additionally, it is increasingly being recognized that the "food Pyramid" may have a number of serious nutritional omissions. For instance, it does not specify which types of fats should be consumed. The western diet is overburdened not only by saturated fats, but there is an imbalance in the type of polyunsaturated fats we eat. We consume too many Omega-6 fats and not enough Omega-3 fats. The Omega-6/Omega-3 ratio in western diets averages about 12:1, whereas data from our recent publication (Eaton SB, Eaton SB 3rd, Sinclair AJ, Cordain L, Mann NJ Dietary intake of long-chain polyunsaturated fatty acids during the Paleolithic Period. World Rev Nutr Diet 1998; 12-23) suggests that for most of humanity’s existence, prior to agriculture, the Omega-6/Omega-3 ratio would have ranged from 1:1 to 3:1. High dietary Omega-6/Omega-3 ratios are associated with increased risk for cardiovascular disease, some types of cancer, and tend to exacerbate many inflammatory disease responses."
Fonte: The Paleolithic Diet and Its Modern Implications:
An Interview with Loren Cordain, PhD.
Recomenda-se por isso que sejam realizados mais estudos, tendo por objectivo aprofundar, aperfeiçoar e validar a segurança a longo prazo desta pirâmide dos Chispes e Couratos, antes de a poder recomendar extensivamente à população portuguesa. Este grupo de investigação alimentar tem vindo aliás a trabalhar neste sentido, conforme ilustrado no blogue de suporte e nas viagens pelas inúmeras tascas nortenhas que visitam. Seria no entanto mais produtiva essa pesquisa se fosse financiada pelas autoridades oficiais, que teriam muito a aprender com estes jovens. Se instituições como a FPC e o ISCEM recebem financiamentos públicos e donativos de privados, para depois andarem a apoiar a campanha das margarinas da Jerónimo Martins/FIMA, um produto industrializado, vendido sob a capa de saudável mas cujas gorduras trans potenciam o cancro e cujo alto teor de ácido linoleico causa hipotiroidismo, porquê razão não podem estes adeptos dos chispes e couratos também receber apoios oficiais para desenvolverem a sua própria investigação e depois proporem a sua própria pirâmide? Parece muito improvável que do seu "trabalho" venham a resultar recomendações alimentares piores do que as da roda ou pirâmide oficial "saudável" da OMS.
Artigos relacionados:
Ketogenic diet, Wikipedia
The Ketogenic Diet (livro recomendado), L. McDonald
History of the Ketogenic Diet, L. McDonald
How Many Carbohydrates Do You Need?, L. McDonald
Plant-animal ratios and macronutrient energy in hunter-gatherer diets, L. Cordain
The Protein Debate, L. Cordain and T. Campbell
Cereal grains: humanity’s double edged sword, L. Cordain
Know your fats, WAPF
Saturated fats: what dietary intake, AJCN
The Myth of the High-Protein Diet, WHS Stephan
Rabbit starvation, Wikipedia
Lard (banha de porco), Wikipedia
Odeio o bolo rei, Chispes e Couratos