07 de Julho, 2011
Framingham Heart Study: em homens/mulheres de 50-68 anos, níveis de colesterol não possuem associação estatística com doença coronária
Autor: O Primitivo. Categoria: Civilização| Mitos| Saúde
Download: framingham-cholesterol.xls (602 kb).
Num artigo anterior, citando conclusões do livro do Dr. David Grimes, baseadas em dados do Framingham Heart Study, eu referia que em homens de 50-62 anos, níveis de colesterol não possuem associação estatística com doença cardiovascular. Ora, hoje descobri um livro, Statistical Modeling for Biomedical Researchers, que disponibiliza bases de dados on-line. Uma dessas bases de dados é justamente a do FHS relativa ao colesterol total de uns tantos milhares de indivíduos, ver ficheiro 2.20.Framingham.csv. A partir destes dados construí os dois histogramas acima, relativos a homens/mulheres na faixa etária 50-68 anos, com e sem doença coronária (CHD), ver ficheiro framingham-cholesterol.xls. Conforme se pode constatar, e o teste estatístico de diferenças das duas médias confirma, não existe diferença entre um histograma e outro. Por outras palavras, em pessoas com 50-68 anos, no FHS não se encontrou associação entre níveis de colesterol e incidência de doença cardiovascular. Note-se que esta mesma conclusão foi corroborada pelo Dr. William P. Castelli, director durante 30 anos do próprio FHS, no artigo mais abaixo citado. O Dr. Castelli é também autor de uma célebre frase que os cépticos do colesterol adoram citar, pode lê-la clicando aqui. Em face destes resultados, e os dados estão aí para quem quiser confirmar tudo, pergunta-se como é possível esta absurdidade de se considerar que níveis de colesterol podem, de alguma forma, prever o risco cardiovascular nas idades >50 anos, justamente as em que esse risco é declaradamente mais elevado. O próprio FHS, que desde há décadas tem vindo a ser usado com "modelo" de risco cardiovascular, tem uma calculadora de risco em que o colesterol entra na fórmula, e em que esse risco é sempre crescente com o aumento de colesterol. Tudo isto parece surreal, prodígios mirabolantes dos estatísticos do colesterol, uns líricos que ainda acreditam que colesterol pode ser um marcador de risco cardiovascular. Na realidade, o artifício aqui adoptado é simples de explicar. Na faixa de idades vamos então agrupar todas as idades e obter uma fraca associação, conseguindo assim fazer parecer que colesterol é um factor de risco mesmo em idade avançada, algo que no entanto se tentou corrigir recentemente, em 2001. Está clarificada a falsificação estatística em questão? A hipótese lipídica vive e perdura, apesar da sua base racional/matemática ser, como estamos a constatar, nula (E já nem vou dizer que se passa quase o mesmo com a pressão sistólica, a partir dos 50 anos quase não determina risco coronário).
Ann Intern Med. 1979 Jan;90(1):85-91.
Kannel WB, Castelli WP, Gordon T.
Abstract
Prospective data at Framingham and elsewhere have shown conclusively that risk of coronary heart disease in persons younger than age 50 is strikingly related to the serum total cholesterol level. Within so-called normal limits risk has been found to mount over a five-fold range. The impact has been found to be augmented by other risk factors. The contribution of the serum total cholesterol to risk has also been found to be determined by its partition in the various lipoprotein fractions. A relatively large amount of cholesterol in the low-density lipoprotein fraction is atherogenic, whereas that in the high-density fraction appears protective. The independent contribution of very-low density lipoprotein and its triglyceride or cholesterol content has, on the other hand, not been established. The previous position that virtually all of the lipid information pertaining to coronary heart disease resided in the serum total cholesterol must be accordingly modified.
Arch Intern Med. 1992 Jul;152(7):1371-2.
Concerning the possibility of a nut…
Comment in Arch Intern Med. 1993 Mar 22;153(6):779-80. Arch Intern Med. 1993 Feb 22;153(4):533-4.Arch Intern Med. 1993 Feb 8;153(3):401-2.
Comment on Arch Intern Med. 1992 Jul;152(7):1416-24.