21 de Agosto, 2009
Ainda o Estádio Nacional e o completo logro que será o campo de golfe que ali pretendem implantar, com paisagismo baseado em espécies, na sua maioria, não-autóctones
Autor: O Primitivo. Categoria: Civilização
Foto: Área de implantação do campo de golfe.
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Na sequência do que eu já tinha falado aqui, ao que parece, o Instituto de Desporto de Portugal demonstra muito pouco respeito para com o Estádio Nacional e seus utilizadores, procurando apropriar-se de boa parte do espaço do Estádio para instalar um campo de golfe, que condicionará o acesso da maioria dos actuais utilizadores, onde eu também me incluo. Repare que se trata de uma área colossal, abrangendo 22 hectares. Acresce que, muito provavelmente, essas obras são ilegais, pois desrespeitam uma série de trâmites e autorizações que seriam necessárias para tal. Isto já para não falar no completo desvirtuamento dos fins com os quais os terrenos foram expropriados na década de 40, e cujo objecto era a criação de "um grande parque, sem luxo, de relvados frescos e árvores copadas, onde a gente de Lisboa brinque, ria, jogue, tome o ar puro, e verdadeiramente se divirta em íntimo convívio com a natureza" e “um lugar de recreio e escola de desportos para todos, mesmo para os que queiram utilizá-lo sem objectivos de competição”. Para além disto, a alegada plantação de 1.000 árvores autóctones prevista parece que é um logro completo, pois na realidade serão plantadas menos e, ainda por cima, 80% não autóctones, com eventual valor paisagístico mas sem valor ecológico. Por outras palavras, o que se verifica é a típica visão utilitarista/egoísta da Natureza, como se fosse uma mera paisagem que existe para servir o Homem e não para suportar um Ecossistema. O que de melhor pode acontecer nesta questão é que, de facto, a Quercus torne isto num caso nacional, pois não há direito destes indivíduos se apoderarem desta forma, que é, note-se bem, ILEGAL, de um património de décadas e que deveria ser de todos. Eu não tenho qualquer convicção política nem nostalgias pelo Estado Novo, época na qual felizmente(?) não vivi, pois ainda sou razoavelmente novo, mas a grande verdade é que aqueles senhores tiveram, há 50 anos, a visão de criarem um Estádio Nacional, um extraordinário espaço de futuro para o desporto nacional, enquanto estes pós-modernistas limitam-se a destruir quase tudo o que os outros fizeram de bem. No que a mim respeita, estou a 100% com os Amigos do Estádio Nacional e considero que não faz falta nenhum campo de golfe ao Estádio. Já assinei a petição logo que ela foi posta a circular.
Serão plantadas "mais de 1.000 árvores" disseram eles…
Tanto o IDP como a FPG afirmaram repetidamente que seriam plantadas "mais de 1.000 árvores" para substituir as cortadas para construir o campo de golfe. Foi também afirmado que se trataria de espécies "autóctones".
Ora bem, foi-nos dada a listagem completa das tais "árvores" no contexto do processo judicial. O número de "árvores" ascende precisamente a 1.617, das quais 772 afinal são arbustos ou plantas de porte arbustivo (558 aloés, 208 fórmios e 6 alfeneiros do Japão), correspondentes a 47,74% do total.
Das verdadeiras árvores, em número de 845 (menos de 1.000, portanto), 18,43% são espécies autóctones (208 pinheiros mansos, 62 pinheiros bravos, 21 freixos e 7 olaias) e, pasme-se, 81,57% são espécies exóticas ou introduzidas.
Do total de espécimens vegetais, 76% (1.229 espécimens) correspondem a aloés, fórmios, cedros e ciprestes, tudo espécies exóticas ou introduzidas. Teríamos portanto uma alteração radical da paisagem no Estádio Nacional, com plantação em massa de plantas de porte arbustivo originárias da África do Sul e da Nova Zelândia e árvores oriundas de quase todo o lado, menos daqui…
Obviamente, estas espécies poderão ter valor ornamental, mas têm pouco ou nenhum valor ecológico e não são aptas a sustentar a vida animal existente no local, ao contrário do coberto vegetal que foi destruído e do que estava prestes a sê-lo.
E aqui temos mais um exemplo da "responsabilidade ambiental" dos promotores desta obra!
Fonte: Amigos do Estádio Nacional.