12 de Julho, 2010
“Um desafio e uma resposta ao CHINA STUDY”, resposta do Dr. Colin Campbell publicada no Tynan, na sequência dos artigos-crítica do Raw Food SOS
A Challenge and Response to The China Study (TYNAN)
Através deste artigo hoje publicado, o Dr. Colin Campbell responde sinteticamente às críticas de Denise Minguer ao CHINA STUDY, "o estudo sobre nutrição mais extenso alguma vez realizado". Na prática não contrapõe com argumentação científica, também diz que não teria tempo para isso. Limita-se a dizer que a autora em questão é inteligente, que apresenta uma análise articulada, mas que não tem formação académica. E também lança algumas suspeições de estar ligada ao lóbie agricultor/pecuário, lançando assim o discurso para o plano menos científico. Aliás, este tipo de argumentação, "eu sou o cientista sénior e vocês são uns jovens sem formação científica" parece ser usual por parte do Dr. Campbell. A este respeito, leia-se a resposta dada em 2006 a críticas ao CHINA STUDY por parte da Fundação Weston Price, uma fundação com sede nos EUA e que defende o valor das tradições alimentares.
Na sequência destes artigos anti-CHINA STUDY, está actualmente está a decorrer no 30 BANANAS A DAY um debate interessante e didáctico, para quem se interessa por epidemiologia (o meu caso), intitulado Debunking The China Study Critics. Digamos que se trata da preparação de uma contra-resposta organizada às recentes criticas. Neste fórum vegetariano-vegano apareceu uma epidemiologista licenciada (veganmama18) a sugerir que Denise não se deveria ter limitado a uma análise ecológica dos dados, mas deveria também tê-los modelado segundo uma extensíssima e trabalhosa metodologia por forma a corrigir/ajustar para factores de confusão. É sugerido a Denise que não agregue os seus dados (ver Step 3), mas o Dr. Campbel na sua resposta sugere exactamente o contrário em relação à agregação de dados. Difícil conciliar estas duas coisas em simultâneo, não parece? A epidemiologista em questão, que diz querer ajudar a Denise, termina a sua missiva com este irónico comentário: "Tenho a certeza que você já tinha planeado fazer isto, mas disponibilize depois esta análise. Com a sua grande liderança poderemos realizar um trabalho cooperativo".
Esta argumentação é correcta do ponto de vista metodológico, mas não deixa de ser curiosa porque na realidade esta deveria ter sido a tarefa principal dos profissionais do CHINA STUDY, o qual o Dr. Campbell vem agora dizer que foi feita mas que não publicou porque não cabia no livro. Ora, isto só adensa mais as dúvidas, porque o facto é que a análise estatística que realmente interessa não está mesmo publicada, ainda que parcialmente, no livro mais vendido e popular em defesa das dietas vegetarianas/veganas. E será que faz algum sentido exigir de uma única pessoa, ainda por cima que não é cientista sénior nem nada que se pareça, a realização de tal colossal tarefa, provavelmente só ao alcance de uma equipa profissional e multidisciplinar, contando com um epidemiologista, um estatístico, um matemático, etc.?
Ou fará mais sentido exigir ao cientista sénior Campbell, autor-líder do CHINA STUDY, que publique toda essa extensa análise, que diz ter sido realizada, com a respectiva interpretação crítica, num novo livro, para assim dissipar todas e quaisquer dúvidas? É que até ao momento aparentemente apenas estão acessíveis as estatísticas mais básicas do CHINA STUDY, bem como um livro obscuro e mais raro de encontrar, o "Diet, Life-Style, and Mortality in China: A Study of the Characteristics of 65 Chinese Counties". Se foi de facto "o estudo sobre nutrição mais extenso alguma vez realizado", então também faria sentido publicar os resultados mais extensos sobre nutrição alguma vez publicados. Em publicações recentes e acessíveis. E será mesmo que a imparcial análise de dados ecológicos levada a cabo por Denise Minguer, apesar dos fracos ajustamentos realizados, não fornece já uma boa medida da realidade? Será expectável que o desejável ajuste para factores de confusão, através de uma análise mais aprofundada, possa vir a alterar por completo toda essa realidade ecológica, subvertendo por completo o observado? É certo que os dados epidemiológicos são ilusórios mas, apesar de tudo, sempre representam boa parte a realidade. Se assim não fosse, vivíamos num mundo de pura ficção, onde nada do observado seria real. (Mais abaixo seguem-se alguns artigos para os interessados em epidemiologia, uma ciência muito ilusória mas, nem por, isso fascinante.)
PS: Parece que as Nações Unidas estão convencidas que "uma mudança global para uma dieta vegana é vital para salvar o mundo". E salvaria mesmo?
Artigos sobre Epidemiologia:
Tipos de estudos epidemiológicos Conceitos de Epidemiologia (Dr. Evangelista Rocha) Texto introdutório de Epidemiologia Causalidade e epidemiologia (R. Barata) O problema da causalidade em medicina Correlation does not imply causation Association and causation Elementos históricos e filosóficos para a crítica da epidemiologia Epidemiologia e saber científico Population mean predicts number of deviant individuals |
História e transformação científica: uma teoria da epidemiologia Base de dados colesterol/mortalidade (Excel) Science-Based Medicine Epi Wonk History & philosophy of modern epidemiology Como avaliar investigação clínica Número necessário tratar (Vaz Carneiro) What is a NNN? O problema do conhecimento verdadeiro na epidemiologia Base de dados epidemiológica (Excel) Base de dados colesterol/mortalidade (Excel) Science-Based Medicine Epi Wonk |