11 de Julho, 2010
Cancro, algumas ideias dispersas sobre a sua abordagem alimentar e ao nível do estilo de vida
Autor: O Primitivo. Categoria: Civilização| Dieta| Saúde
Vídeo: Dr. William Li’s 2010 TED Talk.
Na sequência do artigo "Cancro como doença metabólica da civilização potenciada por inflamação crónica dos tecidos", deixo aqui mais algumas ideias sobre como abordar esta doença crónica, que se manifesta dando vários sinais. Antes de dizer mais alguma coisa, faço notar que este artigo contém um conjunto de ideias que não são de minha lavra, mas antes contribuição de alguns amigos que possuem conhecimentos técnicos muito superiores aos que eu alguma vez terei. Feita esta ressalva, comecemos por uma constatação óbvia, a de que o cancro, tratando-se de uma condição altamente multifactorial e complexa, requer igualmente um tratamento com abordagem por múltiplas vias. No citado artigo, sugeri a necessidade de "protecção ao nível celular contra danos provocados por agentes inflamatórios dos tecidos, como o tabaco, o álcool, químicos carcinogénicos, radiações ionizantes, obesidade, dietas pró-inflamatórias, etc." Ou seja, qualquer alimentação/nutrição, por mais perfeita e optimizada que seja, deve ser sempre encarada como mais um complemento para se restabelecer o desejado reequilíbrio. Mas nem por isso deixa de ser muito vantajoso melhorar a dieta, tornando-a menos inflamatória, menos glicémica (dietas hipercalóricas e ricas em açúcares alimentam o cancro) e menos insulinémica. Isto consegue-se, designadamente, com alimentos mais em linha com o nosso perfil evolucionário, que proporcionem nomeadamente maior densidade de nutrientes essenciais, melhores rácios ómega-3/ómega-6 (os óleos vegetais poliinsaturados são outro óptimo veneno), mais baixos índices glicémicos, mais gorduras saudáveis (monoinsaturadas e saturadas), mais substâncias fitoquímicas e anti-oxidantes, uma flora intestinal mais equilibrada, menor aporte calórico, etc.
Na abordagem terapêutica complementar aos tratamentos médicos da quimioterapia e/ou a radioterapia, muito se poderá fazer. Na luta contra o cancro, objectivos fundamentais serão, nomeadamente, inibir a angiogénese (veja o vídeo no início deste artigo e leia também o artigo do Dr. Romariz) e promover a apoptose. E para tal, no que respeita à alimentação/nutrição, existem inúmeras substâncias naturais/fitoquímicas disponíveis, tais como, por exemplo, o alho envelhecido e a cebola, o tomate (que diminui o aumento de IGF-1 provocado pela hiperinsulinemia), o vinho tinto, os brócolos e as couves (cortadas e depois cozidas no vapor), a curcumina, a glutationa, a silibina, a vitamina C, etc. Sobre todas estas substâncias, nas quais os alimentos naturais ancestrais/tradicionais são riquíssimos, existem centenas de estudos com resultados promissores, embora, infelizmente, muitos deles só in vitro e com animais. E será sempre assim, pois não sendo possível patentear moléculas que existem na natureza, não haverá interesse em patrocinar estudos em humanos, de larga escala e de longo prazo. O mesmo se aplica às vitaminas e minerais, que de igual modo não podem ser patenteadas, e à sua deficiência é sabido que estão associados inúmeros tipos de cancro.
Convém também notar que o adequado para obtenção de uma boa saúde e crescimento normal dos tecidos, pode não ser adequado para quem tem cancro. Por exemplo, para promover o crescimento muscular e incrementar a ostoegénese, é necessária IGF-1 em alta, mas numa condição como o cancro a última coisa pretendida será a hiperinsulinemia. Em minha opinião, o leite bovino será um alimento a evitar de todo, pessoas com cancro não deveriam beber leite por causa das hormonas de crescimento sintéticas e do IGF-1 promotor de crescimento tumoral. Existe um estilo de vida ancestral que deve servir de paradigma a isto tudo, mas depois haverá que personalizar caso a caso. Por exemplo, na diabetes tipo 2, não sendo unicamente potenciada pelo consumo hipercalórico de hidratos de carbono de alto IG, existe comprovada vantagem em reduzir estes alimentos. Ou no caso da insuficiência renal, na qual uma dieta hiperproteica, possivelmente benéfica em indivíduos sem doença renal, mas que quando a mesma já esta está instalada, existe boa evidência que poderá agravar essa disfunção ao ponto de lançar um indivíduo para as cadeiras de hemodiálise.
Em complemento disto tudo, são muito vantajosas as mudanças do estilo de vida, para um padrão mais ancestral/primitivo, que tanto valem preventivamente ou quando a doença já está instalada, através da adopção de medidas seguras/comprovadas, como andar mais a pé e ao ar livre, praticar exercícios relaxantes e espiritualizados como o ioga, obter uma exposição solar potenciadora de níveis óptimos de vitamina D, ter atenção a um sono de qualidade e reparador (apague as luzes), evitar o ambiente poluído das cidades e o tabagismo, reduzir o estresse psicológico procurando o suporte permanente de amigos/familiares, minimizar as ansiedades/incerteza face ao futuro, não perder o interesse pelas actividades diárias usuais, e assim ganhar confiança que tudo vai ficar bem e regressar à normalidade. A respeito destas abordagens multifactoriais, existem oncologistas integrativos que preconizam não só estas mudanças de estilo de vida, mas recorrem também a diversos suplementos (adequados ao tipo de cancro em questão e fundamentalmente ao paciente), fazendo-o de forma consciente e obtendo resultados bons e, em alguns casos, excelentes.
Em suma, se você tem cancro, acima de tudo seja optimista. Não sendo à partida uma condição favorável, existem no entanto inúmeras abordagens comprovadas que lhe permitirão vencer essa batalha. Tenha confiança no seu corpo, porque ele não o está a trair, é antes o seu maior aliado, porque está apenas a lembrá-lo que algo não está de acordo com as regras da sua biologia, fisiologia e bioquímica, e para contrariar isso utilizará em seu favor todo o seu poderosíssimo arsenal imunológico. Ajude-o nessa luta, não se deixe unicamente por conta dos médicos, por melhores credenciais e sabedoria que eles possam ter. Oiça sempre uma segunda, terceira e quarta opinião. Informe-se bem, estude e leia para actuar informadamente. As mais poderosas armas, para resolver qualquer situação ou condição menos ideal, são o conhecimento, a determinação, a confiança e a esperança no futuro.
Artigos relacionados:
Cancer as a metabolic disease. (pdf)
Cancer cell: using inflammation to invade the host. (pdf)
Inflammation and cancer (pdf)
Cancers common in the USA are stimulated by omega-6 fatty acids and large amounts of animal fats, but suppressed by omega-3 fatty acids and cholesterol (pdf)
Omega-6/Omega-3 polyunsaturated fatty acid ratio and cancer (pdf)
The effect of omega-3 FAs on tumour angiogenesis and their therapeutic potential (pdf)
Are vitamin and mineral deficiencies a major cancer risk? (pdf)
DNA damage from micronutrient deficiencies is likely to be a major cause of cancer (pdf)
Apoptosis induction by sulfur-containing compounds in malignant and nonmalignant human cells (pdf)
Can short-term dietary restriction and fasting have a long-term anticarcinogenic effect? (pdf)